Antes de "sumir" do cenário, córregos abasteceram e causaram transtornos
No ano em que a Cidade Morena completa 116 anos, o Campo Grande News tem resgatado histórias de lugares e pessoas que marcaram época. Fomos à casa de um dos primeiros moradores do município, que hoje abriga o museu José Antônio Pereira.
Ouvimos relatos dos comerciantes da antiga Rua Y-Juca Pirama, atual Marechal Cândido Mariano Rondon, que movimentou o comércio na década de 50. Lembramos do circo, que há cem anos foi palco de tragédia no Centro. Mas, agora queremos saber dos córregos ocultos e de onde vinha a água que abastecia toda essa gente no tempo em que a capital sul-mato-grossense ainda era um pequeno povoado do Estado de Mato Grosso.
Conforme o diretor do departamento de licenciamento da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), Ivan Pedro Martins, a represa do Jacinto localizada em uma área na Rua Marquês de Herval, no Bairro Nova Lima, região Norte da cidade, foi o primeiro sistema a abastecer uma vila militar. “Eram 150 ligações, o córrego ficava em uma área do exército conhecida hoje como buracão, isso em 1912”, diz.
Anos depois, o córrego Prosa, formado pelas nascentes do Desbarrancado e Joaquim Português, acolheu os primeiros colonizadores recém-chegados de Minas Gerais. As nascentes estão protegidas e ficam no Parque Estadual do Prosa, nos altos da Avenida Afonso Pena. Foi lá, que começou a captação de água no final da década de 30.
O sistema de tratamento de água, hoje desativado, foi utilizado para abastecer dois bairros e atendia cerca de 10 mil moradores. Atualmente, os córregos Guariroba e Lageado são os responsáveis pelo abastecimento de Campo Grande.
Córregos ocultos - Quando o desenvolvimento urbano começou, as ruas do entorno da Estação Ferroviária, na região Central, começaram a ganhar casas e comércio. A Rua Maracaju, por exemplo, era uma das preferidas. No local há um córrego, que antes era aberto. Segundo relatos históricos, quando chovia o córrego transformava a via em um verdadeiro rio.
Na década de 70, o córrego Maracaju foi tubulado em toda a sua extensão, entre a nascente na Vila Rosa e a sua desembocadura no Córrego Segredo, de acordo com o doutor em Geografia, Mauro Soares. “Assim também aconteceu com o Cascudo, que fica na região do Bairro São Francisco”, explica o professor de mestrado e doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Uniderp/Anhanguera.
Segundo ele, o desenvolvimento da cidade aconteceu no meio da bacia. O córrego Maracaju e o Cascudo estão abaixo da construção. “Com a tubulação foi tirado os braços que minimizavam a quantidade de água que chegaria nos principais canais, como no Rio Anhanduí”, destaca. A solução encontrada na época é um dos motivos de alagamento na Ernesto Geisel.
O Córrego Cascudo, que tinha muitos peixes, faz parte da infância de José Silvestre, 65 anos. O comerciante, que se formou em direito na FUCMAT atual UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), conta que na Euler de Azevedo, onde mantém um comércio de secos e molhados há 23 anos, era conhecido como corredor do Imbirussu, local por onde passava a boiada. “Quem nunca pescou no Córrego Cascudo, que vem da Avenida Rachid Neder e desemboca no segredo”, conta.
De acordo com ele, a cidade cresceu muito e o que mais sente falta é da tranquilidade que a época dos peixes cascudo trazia. “A maioria da molecada da minha época tomou banho no Segredo”, recorda.
Alerta - Hoje, os córregos que fazem parte da história do município precisam de cuidados. Segundo o professor, Campo Grande tem que se preocupar com as áreas de cabeceira que estão acopladas às nascentes de importantes canais, como o Segredo e Prosa, que levam as águas em direção ao Rio Anhanduí. “Os problemas de enchente e alagamento no centro e sul são resultado da ocupação desordenada no norte da cidade, que geram vários problemas de erosão", alerta.
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