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Retrospectiva 2013

Multidão tomou as ruas e forçou inédita redução na tarifa de ônibus

Na primeira grande manifestação desde o impeachment de Collor, 60 mil participaram de protesto na Capital em um dia

Bruno Chaves | 31/12/2013 09:00
Pelo menos 60 mil pessoas foram às ruas da Capital no primeiro dia de protestos para pedir melhores condições na saúde, educação, transporte e outros setores (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Pelo menos 60 mil pessoas foram às ruas da Capital no primeiro dia de protestos para pedir melhores condições na saúde, educação, transporte e outros setores (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Multidão tomou as ruas e forçou inédita redução na tarifa de ônibus

Iniciado em São Paulo na primeira semana de junho de 2013, o movimento que lutou pela redução na tarifa do transporte público repercutiu em mais de 100 cidades brasileiras e até em municípios do exterior. Com o slogan “O Gigante Acordou”, a onda de protestos marcou o Brasil que não via seus cidadãos tomarem as ruas por um interesse comum desde 1992, ano do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

Em Campo Grande, no primeiro dia de manifestações, 20 de junho de 2013, 60 mil pessoas saíram às ruas para pedir melhores condições na educação, saúde, transporte coletivo e outras áreas do poder público. No segundo dia de protestos, parte dos manifestantes se envolveu em confronto direto com a polícia e até prédios privados e públicos, como a Câmara Municipal, foram parcialmente depredados.

Redução na tarifa do transporte – A manifestação que teve início na internet, por meio de redes sociais, chegou às esferas da administração pública. Ainda no mês de junho, mês em que a população clamava por melhorias no País, a presidente Dilma Rousseff (PT) anunciou a isenção do PIS (Programa de Integração Social) e da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) da tarifa do transporte público.

A medida foi uma forma de abrandar os ânimos inflamados da população. Na Capital, redução barateou em R$ 0,10 a taxa do transporte. De R$ 2,85, o valor caiu para R$ 2,75. Apesar de singela, a vitória foi representativa e fez com que, em novembro, o prefeito de Campo Grande abrisse mão do ISS (Imposto Sobre Serviços).

Em julho, cálculos da Agência Municipal de Regulação indicavam que a isenção poderia reduzir a tarifa em R$ 0,14, de R$ 2,75 para R$ 2,61. No entanto, o prefeito autorizou o aumento para R$ 2,90 e depois, a redução. Logo, os campo-grandenses pagam R$ 2,70 para andar de ônibus na Capital que até pouco tempo atrás tinha uma das tarifas mais caras do País.

Marcas dos protestos – Os protestos de junho foram marcados pela redução nas tarifas das passagens do transporte coletivo Brasil à fora. Além disso, principalmente nos grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte (MG), as manifestações foram simbolizadas por violência e agressão, tanto a manifestantes como a policiais e a imprensa.

Na Capital, o clima foi menos tenso. Mesmo assim, alguns episódios marcaram a memória dos campo-grandenses. Luanna Cristina Pavanatti, 24, foi acometida por um mal súbito no primeiro dia do mega-protesto e está em estado vegetativo até hoje.

O militante, ativista social e ator Eduardo Miranda Martins, o Dudu, 28, conhecido da sociedade, foi preso no dia 21 de abril acusado de tráfico de drogas. Ele ficou encarcerado por mais de três meses e só ganhou a liberdade depois de uma extensa batalha nos tribunais. Após ser solto, Dudu revelou sua intenção em ser candidato a deputado federal.

Manifestante com sinalizador na mão durante o primeiro dia de protesto que reuniu milhares de pessoas na Capital (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Manifestante com sinalizador na mão durante o primeiro dia de protesto que reuniu milhares de pessoas na Capital (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Manifestante afronta forças policiais no segundo dia de protesto, que registrou confronto com polícia e ataque ao prédio da Câmara Municipal (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Manifestante afronta forças policiais no segundo dia de protesto, que registrou confronto com polícia e ataque ao prédio da Câmara Municipal (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

No primeiro dos três protestos teve tiroteio, um ferido na mão por bala perdida e um ônibus vandalizado. A vidraça do Banco Bradesco (esquina das avenidas Afonso Pena e Calógeras) foi quebrada e o baderneiro foi preso após procurar atendimento médico, já que tinha rompido os ligamentos da perna no atentado.

A imprensa também foi atacada. Jornais tiveram carros pichados e uma repórter precisou de atendimento médico depois de respirar gases de efeito moral. Muitos profissionais de comunicação iam às ruas sem identificação para tentarem escapar de pessoas infiltradas que tinham como intenção desmoralizar o movimento social.

Futuro – O segundo semestre do ano foi mais tranquilo em relação aos protestos de rua. O clima era de esquecimento e a vontade de ir a luta por melhorias de direitos permaneceu apenas na internet.

Em Campo Grande, pelo menos três manifestações foram agendadas nas redes sociais para o dia 7 de Setembro, feriado de Independência do Brasil. As novas manifestações queriam seguir a mesma linha de protestos que marcou a história dos movimentos populares brasileiros e levou mais de 60 mil pessoas só às ruas de Campo Grande.

A expectativa era audaciosa e tentava colocar 40 milhões de brasileiros para marcharem pelas principais cidades do Brasil. No entanto, pelo menos na Capital, 700 pessoas participaram do tradicional “Grito dos Excluídos” no desfile cívico.

De acordo com o jornalista Alan Brito, que esteve a frente das organizações do protesto, depois das movimentações nas ruas, o grupo se concentrou em avaliar a Saúde no município, mas também a mobilidade urbana e outros. "Não só, fizemos grupos de trabalho em vários setores, GT de Mobilização, GT de Cultura, GT de Combate às Opressões, GT de Questões Agrárias, GT de Transparência, GT de Meio Ambiente", disse.

"Poucos desses grupos tiveram vida orgânica, não por falta de vontade ou comprometimento, mas porque houve a necessidade de se aproximar de movimentos que já atuavam nestas áreas", emendou.

Para ele, mudanças que, de fato, ocorreram foram:a alteração da linha 080; criação da linha 063 - T. Moreninhas / T. Aero Rancho; criação da nova linha do Caiobá; e outras.

"Também citamos como vitória a criação do fundo municipal para a manutenção das gratuidades, para que o benefício não seja bancado pelos usuários, como acontece atualmente. Na minha avaliação são vitórias obtidas através das mobilizações de massa das Jornadas de Junho", concluiu.

Prédios públicos foram "blindados" por guardas municipais durante os três dias de manifestações (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Prédios públicos foram "blindados" por guardas municipais durante os três dias de manifestações (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
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