Após 2 anos da morte do pai, Kelvis irá encontrar mulher que o esquartejou
Réus serão julgados hoje pela morte do chargista Marco Antônio Borges, esfaqueado, esquartejado e queimado
Na entrada do Fórum de Campo Grande, o analista de sistemas Kelvis Rodrigues Borges, 26 anos, aguardava, nervoso, o início da sessão de julgamento da 1ª Vara do Tribunal do Júri. Hoje, pela primeira vez, estará frente a frente com a mulher que matou seu pai, o chargista Marco Antônio Borges.
Clarice Silvestre de Azevedo, 45 anos, e o filho, João Victor Silvestre de Azevedo, 22 anos, serão julgados pelo crime. Ela, por homicídio qualificado (por motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima), além da ocultação e destruição de cadáver. O rapaz, por ocultação de cadáver, pois ajudou a mulher a se livrar do corpo.
Clarice está presa desde dia 24 de novembro de 2020, quando confessou ter matado o chargista no dia 21 daquele mês. Borges foi esfaqueado, esquartejado e colocado dentro de uma mala, jogada em terreno baldio, e incinerado.
Kelvis disse que o nervosismo aumentou ontem, véspera do julgamento. Precisou tomar calmantes para conseguir acompanhar a sessão. “Eu não a conheço, vou ver hoje”, disse. O rapaz sentiu que a avó, Natalina Borges, mãe do chargista, morreu antes do julgamento dos réus. Diagnosticada com câncer em 2021, o quadro se agravou e ela morreu no dia 25 de abril deste ano. “Ela ficou depressiva.”
O filho da vítima diz que Clarice se aproveitou do pai, nas palavras dele, “homem de coração gigantesco, do bem e feliz”. Por conta do temperamento tranquilo, teria sido vítima. “A ingenuidade dele foi seu maior defeito”, avaliou.
Na denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), consta que Clarice e Marco Antônio mantinham relacionamento, mas que ela estava insatisfeita pois queria torná-lo público. Mas ele se recusava, com vergonha da função dela de massoterapeuta.
O relacionamento é negado pela família, que não a conhecia. A cabeleireira Mari Oliveira, 37 anos, prima do chargista, disse que ela sondava os familiares. Nas redes sociais, perceberam que ela havia adicionado vários deles. “A gente só descobriu depois que ele morreu e o nome dela surgiu.”
A artesã Lucimar Chimenes Rosa, 55 anos, tia do chargista, também não acredita que os dois tinham qualquer relacionamento. Ela lamenta a morte e a violência do crime. “A expectativa é que os dois sejam punidos por muitos anos.”
O julgamento atraiu atenção de acadêmicos de Direito que irão acompanhar a sessão da 1ª Vara do Tribunal, sob responsabilidade do juiz Carlos Alberto Garcete. Da família do chargista, pelo menos dez pessoas estão no local para o júri.
Briga – Clarice foi presa em São Gabriel do Oeste, depois de se entregar à polícia. Desde novembro de 2020, está no Presídio Feminino Irmã Irma Zorzi.
No depoimento à DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio), Clarice confessou o crime e disse que o cometeu após as agressões desencadeadas pela briga entre o casal.
Depois, pediu ajuda ao filho, João Vitor Silvestre de Azevedo, 21 anos, para esquartejar o corpo, colocá-lo em uma mala e levá-lo a um terreno no Jardim Corcovado, onde foi queimado.