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Capital

"Cortei a cabeça dele": preso por execução, "Capetinha" expõe entranhas do PCC

Preso desde julho, Sidnei Restoruk, de 27 anos, mandou mensagem de voz para "chefe" tentando se explicar

Marta Ferreira | 02/09/2020 17:38

Em áudio obtido pelo Campo Grande News, criminoso que está preso como responsável por decapitar vítima do “tribunal do crime” do PCC (Primeiro Comando da Capital) expõe entranhas do funcionamento da facção, prestes a completar três décadas e que é considerado o maior grupo fora da lei no Brasil, a ponto de mobilizar nos últimos tempos operações gigantescas das forças de segurança.

São 10 minutos de mensagem de voz enviada por Sandro de Jesus Rerostuk, de 27 anos, a interlocutor desconhecido ao qual ele chama de “chefe”.

Na gravação, “Capetinha” confessa a execução pela qual está na cadeia desde o fim de julho, fala sem rodeios sobre “mandar para o inferno” quem a facção determina que mereça justiçamento, cita outros crimes do tipo, pede aconselhamento ao superior na hierarquia da organização ilegal, fala de como funcionam as ordens dentro do PCC, citando nomes de “irmãos”, entre eles um que acusa de tê-lo ameaçado, armado, dentro da casa onde vivia com a família, no Jardim  Noroeste.

Em tom de desabafo, “Capetinha” revela espécie de crise de consciência e também se queixa de abandono por parte da facção.

Ele começa e encerra a gravação dizendo estar com o “psicológico perturbado”, em razão do último “tribunal do crime” do qual participou, quando Sandro Lucas de Oliveira, de 24 anos, foi morto após dois dias sequestrado.  No organograma da facção, Sidnei Rerostuk tem a função de "missionário", como frisa no áudio, a quem cabe matar as pessoas consideradas traidoras das regras do PCC.

Confira o primeiro trecho:


Citado por “Capetinha” como “Alemãozinho”, Sandro Lucas, com histórico de prisão por tráfico, foi julgado e considerado culpado na ótica da facção criminosa e por isso foi sequestrado e morto de forma cruel.

Segundo a afirmação feita na mensagem de voz, os outros criminosos que participaram do justiçamento abandonaram o local e deixaram o “missionário” sozinho.

“Graças a Deus eu concretizei o Sandro Lucas”, gaba-se.

Confira  o segundo trecho:


Justificativa – Sidnei Rerostuk a todo tempo tenta se justificar para o "chefe", explicando que sua tarefa na facção é agir quando chamado para fazer as execuções e que, no momento, estava ausente por motivo de doença.

Diz ter “tuberculose e pneumonia” e esperava ter a falta “abonada”, mas diferente disso chegou a receber a informação de que deveria ser “conduzido”, termo usado quando vítimas de "tribunais do crime" são levadas para o justiçamento.

A reportagem apurou que o tom de explicação tem a ver com missão na qual teria havido erro. Em abril deste ano, no dia 2, Sônia Estela Flores dos Santos, de 22 anos, foi morta a tiros, no Jardim Noroeste, na frente das filhas, mas o alvo, conforme as investigações, era o marido dela,  Mateus Pompeo Dias, apontado como integrante da facção, chamado no áudio obtido como “Opalão”.

Segundo apurado, a falha é atribuída a grupo do qual “Capetinha” faz parte. Na mensagem de voz, ele cita apenas o apelido “Opalão”, dizendo ter recebido ameaça em casa dessa pessoa.

Conta ainda ter recebido ordem direta para a execução de "Opala do PCC", como Mateus é citado em processo judicial. Para esse fim, comenta "Capetinha", foi providenciada uma moto e  arma pelo “movimento”.

De acordo  com o relato feito ao chefe, numa primeira tentativa, ele e o comparsa fugiram do lugar porque cães começaram a latir. Afirma que, embora o alvo viva no mesmo bairro que ele à época da gravação, e tenha avisado isso a superiores, não recebeu mais ajuda. A queixa é de que, sequer, conseguia o número da “regional”, em alusão a bandidos com funções superiores no Estado.

Confira o terceiro trecho do áudio:


Confira o quarto trecho do áudio:


Sandro Rerostuk está cumprindo prisão preventiva no Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho, a “Máxima”, em Campo Grande. Ele já foi denunciado pela morte de Sandro Lucas, junto com Rafael Aquino de Queiroz, vulgo “Professor” ou “Enigma”, 35 anos, Adson Vitor da Silva Farias, “Ítalo” ou “Ladrão de Almas”, 21 anos, Eliezer Nunes Romero, ou  “Maldade”, de 19 anos.

Todos esses estão presos. Eles haviam sido localizados antes de “Capetinha”, que foi o último encontrado, no dia 28 de julho, quando indicou onde os restos mortais de Sandro Lucas estavam à equipe da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio), onde o inquérito correu.

No último trecho do áudio obtido pela reportagem, ele fala do local de desova.

Confira abaixo:


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