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Capital

Em liberdade, Olarte toma sorvete com amigo e diz que vai provar inocência

Ex-prefeito afirmou à reportagem que está preparando a defesa dele e vai provar que comprou dez imóveis com dinheiro limpo

Anahi Zurutuza e Paula Maciulevicius | 07/10/2016 16:59
Luiz Pedro Guimarães (de preto) e Gilmar Olarte (de camisa rosa) na sorveteria (Foto: Direto das Ruas)
Luiz Pedro Guimarães (de preto) e Gilmar Olarte (de camisa rosa) na sorveteria (Foto: Direto das Ruas)
Com pasta na mão, ex-prefeito deixou loja pouco depois de negar entrevista à reportagem (Foto: Direto das Ruas)
Com pasta na mão, ex-prefeito deixou loja pouco depois de negar entrevista à reportagem (Foto: Direto das Ruas)

Em liberdade há dez dias, Gilmar Antunes Olarte diz que está preparando sua defesa e vai provar que comprou ao menos dez imóveis em um ano – coincidentemente quando esteve à frente da Prefeitura da Capital – com o dinheiro da Casa da Esteticista, empresa que está no nome da mulher dele, Andreia Olarte.

O ex-prefeito de Campo Grande passou 42 dias preso e agora aproveita a liberdade. Na tarde desta sexta-feira (7), ele deu as declarações enquanto tomava um sorvete no Sésamo Gelato e Café da rua Antônio Maria Coelho, em Campo Grande.

Ele estava acompanhado do advogado e empresário Luiz Pedro Guimarães. “Estou aqui tomando um sorvete com um amigo”, disse.

Assim que a reportagem abordou Olarte, ele fez sinal com as mãos de que não daria entrevista, mas soltou algumas frases. “Jamais, só na hora certa, só daqui uns dias, quando vou estar com todos os documentos que provam tudo o contrário [de que a compra de imóveis seria para lavar dinheiro desviado da prefeitura, conforme aponta o Ministério Público Estadual], está quase pronto”, garantiu ao ser questionado sobre a possibilidade de dar uma entrevista.

Olarte tinha em mãos papéis dentro de um plástico. “Em dois anos, a minha loja recolheu meio milhão [ou seja, R$ 500 mil] de ICMS [Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços]. Isso aqui são extratos do governo”, disse mostrando o calhamaço.

O ex-prefeito não falou mais nada e justificou que foi orientado pelos advogados de defesa a não dar declarações detalhadas à imprensa.

Ele pediu um sorvete triplo, que custa R$ 15, com os sabores sneekers, brigadeiro e spettacolo. Saiu da sorveteria pouco depois de a reportagem deixar o local.

Advogado amigo de Olarte depois de registrar a candidatura no TRE (Foto: Alcides Neto/Arquivo)
Advogado amigo de Olarte depois de registrar a candidatura no TRE (Foto: Alcides Neto/Arquivo)
Olarte no dia que foi solto e declarou ‘não lavei dinheiro’ (Foto: Guilherme Henri/Arquivo)
Olarte no dia que foi solto e declarou ‘não lavei dinheiro’ (Foto: Guilherme Henri/Arquivo)

Política – Luiz Pedro Guimarães chegou a sair candidato a prefeito pelo Pros (Partido Republicana da Ordem Social) neste ano. Andreia Olarte seria candidata a vereadora pela mesma legenda, mas a prisão dela no dia 15 de agosto – último dia para o registro das candidaturas – impediu que ela se lançasse.

O amigo do ex-prefeito desistiu da candidatura nove dias depois que a Operação Pecúnia, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), a “tropa de elite” do MPE, levou Olarte e a mulher para trás das grades.

Luiz Pedro foi ainda uma das pessoas que assinou documento pedindo que a Câmara Municipal abrisse investigação contra o então prefeito Alcides Bernal. A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) foi instaurada e resultou na cassação do chefe do Executivo municipal em março de 2014. Gilmar, que era o vice, assumiu o comando do município.

Liberdade – Gilmar e a mulher passaram uma quarentena no Presídio Militar Estadual e no Presídio Feminino Irmã Irma Zorzi, respectivamente. Enquanto isso, a defesa do casal tentou vários habeas corpus na Justiça Estadual, recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal), mas só depois que Olarte renunciou aos cargos de prefeito e vice-prefeito, perdeu o foro privilegiado e o processo contra ele caiu para o 1º Grau, é que conseguiu que pedido fosse analisado por juiz local.

O juiz Roberto Ferreira Filho, da 1ª Vara Criminal de Campo Grande, revogou a prisão preventiva do casal no dia 27 de setembro, mas impôs restrições.

Familiares e amigos de Gilmar e Andreia fizeram uma “vaquinha” para pagar a fiança de quase R$ 30 mil e o magistrado expediu o alvará de soltura no meio da tarde daquele dia.

Além de usar as tornozeleiras, o casal está proibido de se ausentar da cidade e terá de entregar os passaportes para a Justiça. Eles também não podem fazer qualquer contato com os outros acusados.

Prisão de Andreia e Gilmar, no dia 15 de agosto (Foto: Fernando Antunes/Arquivo)
Prisão de Andreia e Gilmar, no dia 15 de agosto (Foto: Fernando Antunes/Arquivo)

Pecúnia – A investigação que desencadeou a Operação Pecúnia começou após dados obtidos com a quebra de sigilo bancário da ex-primeira-dama, assim como da empresa dela, a Casa da Esteticista.

Além de comprarem imóveis usando o nome de “laranjas”, Gilmar e Andreia os registravam com valores até 15 vezes abaixo que o de mercado, segundo o MPE. Os preços reais investidos eram completamente incompatíveis com a renda declarada do casal, evidências claras que o pastor evangélico e a esposa fizeram verdadeira “farra” do o dinheiro público, enquanto ele estava no comando do município, argumenta o Gaeco na denúncia contra os dois.

Em um ano e dois meses – de maio de 2014 a julho de 2015 –, Olarte e Andreia compraram três chácaras, cinco terrenos, dois imóveis em condomínio e começaram a construção de casa orçada em R$ 1,3 milhão no residencial Damha 2, em Campo Grande.

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