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JBS não cumpre meta e projetos para dobrar produção patinam em MS

Frigorífico de peru em Itaporã ficou para 2018; Em Dourados, frigorífico continua abatendo 3 mil suínos por dia e em Caarapó dos 100 novos aviários, apenas quatro estão em construção

Helio de Freitas, de Dourados | 23/05/2017 15:00
Frigorífico de Perus em Itaporã ainda não saiu do papel. (Foto: Itaporã News)
Frigorífico de Perus em Itaporã ainda não saiu do papel. (Foto: Itaporã News)
Estrutura onde deveria funcionar frigorífico de peru, em Itaporã; projeto ficou para 2018 (Foto: Aislan Nonato/Ifato)
Estrutura onde deveria funcionar frigorífico de peru, em Itaporã; projeto ficou para 2018 (Foto: Aislan Nonato/Ifato)

Maior indústria de proteína animal do mundo e suspeita de cooptação criminosa de autoridades e políticos brasileiros através de subornos milionários, a JBS está longe de cumprir a meta dos projetos de expansão em Mato Grosso do Sul, anunciados no dia 1º de dezembro de 2015.

Naquele dia, Gilberto Tomazoni, presidente global de operações da JBS, e Joana Karolesk, presidente da JBS Foods, estiveram em Dourados, a 233 km de Campo Grande, para anunciar investimentos de R$ 1,2 bilhão. Em troca, o grupo teria quase R$ 1 bilhão de incentivos do governo estadual ao longo de 12 anos.

Um ano e meio depois do anúncio, os projetos patinam e a promessa de dobrar a produção está longe de ser atingida, como o Campo Grande News apurou nas quatro cidades que seriam beneficiadas com os investimentos – Dourados, Itaporã, Caarapó e Sidrolândia.

Dados da SFA (Secretaria Federal de Agricultura) em Mato Grosso do Sul mostram que os abates de aves se mantêm estáveis em Caarapó e Sidrolândia, cidades em que a JBS anunciou investimentos para dobrar a produção de aves.

Já em Dourados, onde a indústria possui uma unidade especializada em suínos, a média de abates é a mesma desde o ano passado. Em Itaporã, onde a JBS não possui nenhuma atividade, o projeto do frigorífico de peru não saiu do papel e vai ficar para o ano que vem, segundo informações da empresa à prefeitura.

Itaporã – O projeto bilionário da JBS para Mato Grosso do Sul beneficiava diretamente a cidade de 24 mil habitantes, localizada a 227 km de Campo Grande e a 20 de Dourados. A promessa era geração de 1.450 empregos diretos e outros 4.500 indiretos e revolucionar a cadeia produtiva do estado com uma indústria inédita, a maior planta industrial de perus da América Latina.

A empresa arrendou um frigorífico desativado na cidade e anunciou investimentos de R$ 490 milhões para revitalização e modernização da fábrica, localizada na MS-270, construção de uma indústria de ração, incubadora, granjas, galpões e outras estruturas.

A previsão era colocar a indústria para funcionar em janeiro de 2018, para abater 30 mil perus por dia – nove mil toneladas de carne, com faturamento de R$ 700 milhões por ano.

Só que até agora quase nada foi feito e o antigo frigorífico continua desativado. Nem mesmo a logomarca da JBS existe no prédio. Algumas obras foram feitas na parte administrativa, mas há meses não existe movimentação de pessoas no local.

De acordo com a assessoria do prefeito Marcos Pacco (PSDB), a JBS informou que as obras foram suspensas, com previsão de retomada em 2018.

Ampliação da indústria da JBS em Dourados está em andamento, mas produção continua a mesma (Foto: Helio de Freitas)
Ampliação da indústria da JBS em Dourados está em andamento, mas produção continua a mesma (Foto: Helio de Freitas)

Dourados – Metade do investimento da JBS era para a segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, mas 18 meses depois o projeto não surtiu efeito.

O abate e processamento de suínos continua com a mesma média do ano passado e ampliação da indústria está em ritmo lento, como qualquer um pode perceber ao passar em frente à JBS, na BR-163, saída para Campo Grande.

A JBS projetou ampliar a unidade de abate e processamento de suínos em Dourados, com investimento de R$ 554 milhões para construir uma segunda planta e dobrar a capacidade de produção local – passando de três mil abates/dia para seis mil. A promessa era gerar pelo menos 1.550 empregos diretos e ativar a segunda planta no fim de 2016.

A produção de industrializados deveria saltar de oito mil toneladas por dia para 33.800. Os empregos diretos saltariam de 2.450 para 4 mil e a de empregos indiretos de 6.500 para 14.500. O faturamento da unidade passaria de R$ 1,16 bilhão por ano para R$ 2,9 bilhões.

Celso Philippi Junior, presidente da Asumas (Associação Sul-Mato-Grossense de Suinocultores), disse ao Campo Grande News que a JBS continua abatendo a média de três mil suínos por dia em Dourados e tem meta de chegar a 4.500 até o final deste ano.

“Atualmente as granjas estão em condições de fornecer quatro mil suínos por dia e a empresa pretende trazer porcos de outros estados para atingir a meta de 4.500/dia. O abate de seis mil suínos por dia vai ficar para 2018”, afirmou Celso Junior.

Segundo ele, três novas granjas estão em fase de implantação – duas em Glória de Dourados e uma em Dourados. Futuramente, essas unidades vão ajudar as já existentes a fornecer a quantidade necessária para atender a demanda da planta de Dourados. Mato Grosso do Sul tem pelo menos 200 suinocultores, dos quais 140 são agregados à JBS.

Gilberto Tomazoni, no dia 1º de dezembro de 2015, em Dourados (Foto: Arquivo)
Gilberto Tomazoni, no dia 1º de dezembro de 2015, em Dourados (Foto: Arquivo)

Caarapó – Para a cidade de 28 mil habitantes, localizada a 283 km de Campo Grande, a JBS anunciou, em dezembro de 2015, investimento de R$ 80 milhões, para ampliação da produção integrada de frango.

A promessa era que a fábrica passasse a gerar 550 empregos diretos – 50 a mais que o número atual. Em Caarapó, o frigorífico da JBS fica na BR-163, no distrito de Nova América.

Números da SFA, no entanto, mostram que a produção de frangos continua estagnada em Caarapó. A JBS Aves produziu em média 2.500 quilos de frangos/mês naquele município em 2016. Neste ano ouve um pico de 2.800 quilos em março, mas o total caiu para 2.200 em abril e a média de 2.500 quilos/mês se repete.

Avicultores ouvidos pela reportagem confirmam o que os números da SFA revelam: nada mudou um ano e meio depois do anúncio feito pela JBS.

Dos cem novos aviários projetados para dobrar a produção a ser industrializada em Nova América, apenas quatro foram implantados e outros oito dependem da liberação de financiamento bancário para serem implantados.

“Tínhamos uma reunião com a JBS no dia 19 deste mês, depois foi adiada para o dia 29. Os avicultores estão apreensivos com o que vai acontecer com a empresa. A avicultura vive uma de suas piores crises e quem está na atividade só permanece para tentar pagar as dívidas”, afirmou ao Campo Grande News um produtor de frango da região, que pediu para não ter o nome divulgado.

Sidrolândia – Na cidade de 53 mil habitantes, a 71 km da Capital, a JBS prometeu R$ 71 milhões para ampliar a unidade local e aumentar em 1.398 toneladas a produção mensal de frango.

Mas, o balanço da SFA mostra que, assim como ocorre em Caarapó, a situação dos avicultores de Sidrolândia não mudou. A Seara Alimentos, que pertence ao grupo JBS, processou 50,4 mil quilos de no ano passado, com uma média mensal de quatro mil quilos. Nos quatro primeiros meses de 2017 foram 17,3 mil quilos, com a média de quatro mil quilos/mês.

O Grupo JBS foi procurado para falar sobre a situação dos projetos anunciados em 2015, mas até a tarde de hoje (23) não tinha se manifestado.

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