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Interior

Juiz cita evidências e mantém indígenas em fazenda de amigo de Zeca do PT

Fabio Fischer negou pedido de reintegração de posse da Fazenda do Inho, no município de Rio Brilhante

Helio de Freitas, de Dourados | 16/05/2023 10:04
Força Nacional na área, no dia da visita da ministra dos Povos Indígenas, em março (Foto: Helio de Freitas)
Força Nacional na área, no dia da visita da ministra dos Povos Indígenas, em março (Foto: Helio de Freitas)

O juiz federal Fabio Fischer negou o pedido de reintegração de posse da Fazenda do Inho, no município de Rio Brilhante, ocupada no início de março deste ano por indígenas guarani-kaiowá. A propriedade pertence a Raul das Neves Junior, dirigente do Partido dos Trabalhadores na cidade e amigo do deputado estadual Zeca do PT.

No dia 18 de março, a ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara esteve no local e prometeu ações do governo federal para acelerar as demarcações no país.

Acampados nos fundos da propriedade, os indígenas ampliaram a invasão no dia 3 de março após boatos de que a fazenda estava sendo negociada para assentamento de trabalhadores sem-terra. Mesmo sem mandado judicial, a Polícia Militar os expulsou das proximidades da sede e três líderes foram presos.

No dia seguinte, os indígenas foram soltos pela Justiça e juntos com os demais integrantes da comunidade retomaram a ocupação da sede. Uma semana depois, após acordo intermediado pelo deputado federal Vander Loubet (PT), o proprietário conseguiu concluir a colheita da soja e desde então a fazenda está em posse dos guarani-kaiowá.

“Análise cartográfica acostada aos autos demonstra que o imóvel identificado como Fazenda do Inho encontra-se localizada, de forma muito próxima, entre a Terra Indígena Panambi Lagoa Rica e o acampamento Laranjeira Nhanderu, evidenciando elevada probabilidade de ocupação tradicional também sobre aquela área, especialmente porque a ocupação tradicional não respeitava marcos atuais dos imóveis, estabelecidos mediante outros critérios e à revelia da população indígena”, afirmou o juiz federal.

Fabio Fischer continua: “se, por um lado, o autor possui título formal de propriedade da terra, e vinha exercendo a posse sobre ela de boa-fé até o momento da invasão; por outro, os índios demandados reivindicam um direito que foi reconhecido constitucionalmente como ‘originário’, vale dizer, que precede a qualquer título de propriedade, e deriva unicamente da tradicionalidade de sua ocupação”.

O magistrado federal citou que todas as ações de reintegração de posse de áreas reivindicadas como terras indígenas foram suspensas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin até a conclusão do julgamento do marco temporal.

“Há evidencias de que a área ocupada na Fazenda do Inho se constitua em Terra Indígena, o que afastaria a legitimidade do título de propriedade apresentado. Diante dessas circunstâncias, não há verossimilhança apta a justificar a determinação de retirada dos índios que estão ocupando o local, especialmente frente à ordem de suspensão das ações possessórias que envolvam terras indígenas”.

Zeca do PT – Em discurso na Assembleia Legislativa, Zeca do PT chamou de “barbaridade” a invasão da fazenda do dirigente petista. “É uma vergonha, não contem comigo, essa gente que sem nenhuma razão ocupa propriedade produtiva, gerando insegurança jurídica e correndo risco de consequência que a gente não tem dimensão do que pode acontecer”, afirmou o deputado.

Em nota oficial, o diretório estadual do PT condenou a declaração e chamou Zeca de incoerente. Para o grupo, o pronunciamento foi “desastroso”. Durante a visita de Sonia Guajajara à área, os indígenas criticaram o deputado petista e afirmaram que Zeca estava a serviço dos ruralistas.

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