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Interior

Sem PF, Funai busca apoio do Exército para ir à área de conflito na fronteira

Coordenador da Funai em Ponta Porã diz que acampamentos foram atacados após tentativa de ocupação à Fazenda Madama

Helio de Freitas, de Dourados | 01/02/2016 14:33
Índios do território Kurussu Ambá aguardam demarcação há uma década (Foto: Divulgação/Cimi)
Índios do território Kurussu Ambá aguardam demarcação há uma década (Foto: Divulgação/Cimi)

O coordenador regional da Funai em Ponta Porã, Élder Paulo Ribas da Silva, espera apoio da Polícia Militar ou do Exército para ir até a área indígena Kurussu Ambá, no município de Coronel Sapucaia, a 400 km de Campo Grande, perto da fronteira com o Paraguai. Os guarani-kaiowá que moram em dois dos três acampamentos foram atacados ontem por pistoleiros que ocupavam três caminhonetes. Tiros foram disparados e barracos queimados, mas não há informação de pessoas feridas.

Ao Campo Grande News, Élder da Silva disse na tarde desta segunda que procurou a Polícia Federal e pediu escolta da equipe que precisa ir ao local fazer um levantamento da situação, levar ajuda aos índios e saber se tem alguém ferido, mas a PF teria alegado falta de efetivo para a missão.

“Primeiro eles falaram que iriam, mas depois disseram que não tem efetivo para ir hoje e só poderão ir depois. Agora estou tentando apoio da polícia ou até mesmo do Exército”, afirmou o coordenador, que pretende ir ao local ainda nesta tarde.

Tentativa de ocupação – Élder da Silva contou que os ataques foram uma resposta dos fazendeiros da região à tentativa de ocupação da Fazenda Madama, uma das quatro propriedades que formam o território de Kurussu Ambá.

“Os indígenas consideram a Madama uma área tradicional e cobram a demarcação porque o local foi palco da morte de uma importante liderança da região, Judite Lopes, ocorrido em 2007. Desta vez, o filho da Judite, Inocêncio Lopes, liderou a tentativa de retomada, mas o grupo foi expulso e durante a perseguição os capangas atacaram dois acampamentos na fazenda Bom Retiro. Ficou claro que eles foram de casa em casa para expulsar todo mundo dessa fazenda, já que ninguém da fazenda Barra Mansa foi atacado”, afirmou o coordenador.

Pistoleiros paraguaios – Eliseu Lopes, um dos líderes dos guarani-kaiowá na região, disse que entre os capangas estariam pistoleiros paraguaios, contratados do outro lado da fronteira. “Eles falavam em guarani, são paraguaios contratados para nos expulsar de áreas que a própria Justiça Federal já suspendeu a reintegração de posse”, disse ele à reportagem, por telefone.

De acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), há quase uma década o tekoha Kurussu Ambá está em processo de identificação e delimitação. O relatório de identificação da área deveria ter sido publicado pela Funai em 2010, segundo TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) estabelecido pelo Ministério Público Federal em 2008.

No entanto, o relatório foi entregue pelo grupo técnico somente em dezembro de 2012, e ainda aguarda aprovação da Funai de Brasília.

“Neste período, além dos ataques, os indígenas têm sofrido uma série de ações judiciais de reintegração de posse, que visam garantir a permanência dos proprietários rurais no local. Em março de 2015 o Supremo Tribunal Federal suspendeu a decisão de reintegração de posse contra Kurussu Ambá, garantindo a permanência das famílias em parte da área”, informou o Cimi, braço da igreja católica.

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