IPTU sobe 600% e leva família ao desespero com "presente de Natal"
Sem asfalto na frente de casa e sem esgoto. Um bairro sem segurança, mercado, posto de saúde e nem escola. Uma casa simples, sem forro, sem luxo, com três quartos, onde mora uma família de seis pessoas, com renda de aproximadamente R$ 1,3 mil. Um IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) atualizado com valor de R$ 1.406,04 e vencimento em janeiro de 2016.
O presente de Natal da família Silva foi o carnê do IPTU, que é mais caro que o salário do marido da autônoma, Nanci Neves dos Santos Silva. Antes do reajuste de 636%, o valor do imposto cobrado em 2015 foi de R$ 191,69, que a família pagou parcelado em quatro vezes.
Há 21 anos morando no bairro Vivenda do Parque, o imposto é cobrado como territorial, mas no terreno sempre teve uma casa. "Por cinco anos fomos isentos porque a casa era muito pequena e a prefeitura disse que não tinha como cobrar. Depois de um tempo, uns técnicos vieram aqui em casa, olharam e a gente voltou a pagar, mas um preço justo e não esse valor absurdo", conta.
O asfalto passa ao lado da casa da família, mas não chega até a frente. Ao lado, na frente e atrás da residência, o verde do mato predomina. "Nós não temos segurança nenhuma e como tem muito mato e terreno baldio, os bandidos gostam. Ontem mesmo minha filha estava voltando da escola, se deparou com um malandro. A gente vive com medo", afirma.
E se precisar de um médico ou fazer as compras do mês, a família precisa ir até o Bairro Maria Aparecida Pedrossian, distante mais de 2 quilômetros de onde moram. "Aqui não tem posto de saúde, mercado, escola e nem farmácia. Se alguém tiver morrendo, vai ter que ir até o outro bairro para conseguir atendimento", alega.
Segundo o esposo de Nanci, o pedreiro Erasmo Mourão Silva, a prefeitura está cobrando por um forro de madeira que não existe na casa. "Nem forro minha casa tem. Moro há 20 anos no mesmo lugar e não fiz reforma nenhuma", explica.
Em 2011, o asfalto chegou apenas na linha de ônibus que acaba na esquina da casa da família. Nanci afirma que sabe que precisa pagar os impostos, mas que não tem condições de honrar esse imposto com um valor como o que está sendo cobrado. "Eu tenho consciência que é sim preciso pagar os impostos, mas quem está no poder quer tirar dos pobres e isso é errado", desabafa.
Agora, é esperar a empresa do marido carregar o cartão de passe, para os dois poderem ir até a prefeitura saber o que pode ter acontecido. "Eu quero ir logo para resolver isso, pois se deixar passar muito, vai vencer e vamos ficar devendo", relata.
O IPTU de um terreno no Damha, por exemplo, custa em média R$ 1,5 mil, quase o mesmo valor do imposto cobrado da família Silva.
Mudança - Mais de 18 mil imóveis passaram de territorial para predial em 2016. Esses imóveis estavam clandestinos, ou seja, o proprietário tinha um terreno, construiu uma casa e não declarou na prefeitura. Com essa adequação, a Prefeitura de Campo Grande terá acréscimo de R$ 20 milhões na arrecadação.
Conforme a assessoria da prefeitura, através do georreferenciamento a prefeitura atualizou os dados dos imóveis em Campo Grande. Com isso, muitos impostos foram atualizados. Como na rua não tem esgoto e nem asfalto, a recomendação para a família é ir até a Central de Atendimento, antiga Câmara Municipal, para saber se houve um erro de lançamento ou conferir os motivos do valor cobrado.