“Sem denúncia fechada, vieram com a prisão preventiva”, critica Puccinell
Ao Campo Grande News, ex-governador afirma deixar conclusões sobre suspeitas à Justiça, mas critica o fato dele e o filho serem presos sem que houvesse acusação formal
Alvo principal da operação Papiros de Lama, quinta etapa da Lama Asfáltica, o ex-governador André Puccinelli (PMDB), contesta a decisão que o manteve preso por um dia, sob acusação de participar de um esquema de cobrança de propinas durante sua gestão à frente do Estado. Seu principal argumento –assumido também por seus apoiadores– envolve a emissão de um mandado de prisão sem que fosse ele alvo de denúncia formal.
Puccinelli e seu filho, o advogado André Puccinelli Júnior, estiveram entre os alvos de mandados de prisão preventiva cumpridos em 14 de novembro na Papiros de Lama (ao lado dos advogados João Paulo Calves e Jodascil Gonçalves Lopes). A investigação da Polícia Federal os colocou no centro de uma operação envolvendo pagamentos de propina na ordem de R$ 235 milhões, levantado a partir de delação premiada do pecuarista Ivanildo da Cunha Miranda.
O ex-governador contesta ter sido preso sem que houvesse acusações formalizadas contra si. “Sem a denúncia ter sido fechado já vieram com a prisão preventiva”, afirmou Puccinelli nesta segunda-feira (27) ao Campo Grande News. “Nem mesmo indícios sobre o guri”, prosseguiu, referindo-se ao filho.
Ele ainda reforçou que este ponto foi destacado na decisão expedida pelo desembargador federal Paulo Fontes, do TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), que em 15 de novembro decidiu soltar o ex-governador e seu filho. Fontes, ao fundamentar a decisão de soltura, apontou o extenso prazo pelo qual a Lama Asfáltica se desenrolou, incluindo vários mandados de busca e apreensão. E que, mesmo com essa demora, não foram apresentadas denúncias.
Decisão – A avaliação do governador é a mesma de alguns de seus principais apoiadores, que inclusive lhe dão o respaldo interno para assumir o comando do PMDB e comandar a organização do partido para as eleições de 2018. “Não há denúncia e não há julgamento da Justiça. O partido está ao lado dele [Puccinelli], pontuou o deputado estadual Márcio Fernandes.
“Se você olhar os autos do TRF-3 não verá contemporaneidade para justificar uma medida como a que foi tomada contra ele [Puccinelli]. Não representa risco, não está constrangendo ninguém, não cria embaraços para a investigação. Ao contrário, sempre se colocou à disposição de quaisquer investigações desde o princípio, foi espontaneamente”, afirmou Ulisses Rocha, presidente municipal do PMDB.
Advogado, Rocha também afirma que a PF cumpriu seu papel nas investigações. No entanto, “a demora nas investigações foi objeto da decisão do desembargador, dizendo que até agora, por mais que a apuração esteja em curso, foram quatro anos e não foram oferecidas denúncias. Se não tem denúncia, não tem processo ainda para justificar medidas tão rigorosas como as tomadas”, alegou.
Puccinelli, por seu turno, opta por deixar para o Judiciário e a sociedade o posicionamento sobre as acusações levantadas até aqui contra ele. “Quem avalia as denúncias é a Justiça, de um lado, e a população, do outro”, apontou.
Questionado sobre o volume de investigações contra agentes públicos e políticos e os efeitos disso perante a sociedade, Puccinelli vê um movimento que atinge a representação pública como um todo. “Eu acho que, diante de um conjunto de fatores, está se procurando criminalizar a política. Não é isso. Não se criminaliza, por exemplo, uma profissão inteira à força. Criminalizam-se pessoas, não a política”.