Após 2 anos de apuração, pecuarista é o 1º delator da Lama Asfáltica
Etapa prendeu o ex-governador do Estado, André Puccinelli (PMDB)
Ivanildo da Cunha Miranda é o primeiro a fechar acordo de colaboração premiada com a Justiça em Mato Grosso do Sul. O conteúdo revelado às autoridades culminou na 5ª fase da Operação Lama Asfáltica - que já dura dois anos - e na prisão do ex-governador André Puccinelli (PMDB) nesta terça-feira (14).
Pecuarista e empresário, Miranda tem 59 anos e atuava como operador do ex-chefe do Executivo estadual no esquema de recebimento de propinas da JBS.
O delator foi bancário de 1976 a 1990, vinculado ao banco Bradesco, em Campo Grande, Maracaju e Dourados. Em 1995, se tornou pecuarista ao comprar a fazenda Santa Terezinha em Corguinho.
Desde então, ainda de acordo com a delação premiada, teve empresas de atividades de comércio de gado, distribuidoras de cerveja, sorvetes e lubrificantes.
Em maio, ele foi citado em delação premiada dos irmãos donos da JBS, Joesley e Wesley Batista. Na ocasião, o nome dele foi destaque em 17 páginas e documentos anexados, nos quais os irmãos o definiam como o contato da JBS com MS para pagamento de propina a políticios e financiamento de campanha.
Ivanildo procurou a Polícia Federal e prestou depoimentos em julho deste ano. O acordo de colaboração premiada foi apresentado e homologado em agosto pelo juiz federal Fábio Luparelli Magajewski, substituto na 3ª Vara Criminal Federal de Campo Grande.
O colaborador foi operador do esquema de 2006 a 2013. Consta no termo de acordo que o produtor rural, quando condenado pelos crimes que confessou ter cometido, cumprirá pena em prisão domiciliar sem tornozeleira eletrônica, conforme pedido feito pela defesa dele alegado que o cliente tem diabetes.
Ele revelou, dentre outros detalhes, que entregava dinheiro em espécie para o ex-chefe do Executivo ao menos duas vezes por mês.
Conforme as investigações, o ex-governador seria o comandante do esquema e teria recebido R$ 20 milhões oriundos de propina, pagas somente pela JBS. Metade do dinheiro teria sido em espécie e o restante em forma de doação oficial em 2012.
Operação - André Puccinelli é o principal alvo da 5ª fase da Operação Lama Asfáltica, deflagrada nesta terça-feira (14) pela PF (Polícia Federal), CGU (Controladoria-Geral da União) e Receita Federal.
Nesta fase, a investigação aponta que a organização criminosa teria causado pelo menos R$ 235 milhões em prejuízos aos cofres públicos.
O ex-chefe do Executivo estadual teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. A atual etapa é consequência da delação premiada de Ivanildo.
Além de Puccinelli, o filho André Puccinelli Junior foi preso nesta manhã, além dos advogados Jodascil Gonçalves Lopes e João Paulo Calves, ambos ligados ao Instituto Ícone, de ensino jurídico, e portanto, a Puccinelli Júnior.
Seis pessoas foram levadas para depor (alvos de mandados de condução cercitiva): André Cance, João Maurício Cance, João Amorim, João Baird, Mirched Jafar Júnior e Antonio Celso Cortez.
Lama Asfáltica - A quarta fase da Lama Asfáltica, que também teve o ex-governador como principal alvo, foi deflagrada no dia 11 de maio. A Polícia Federal saiu às ruas de Campo Grande e mais cinco cidades para prender três pessoas, levar outras nove para depor e fazer busca em 32 endereços em busca de provas contra suposta organização criminosa investigada por desvio de dinheiro público.
A quarta etapa da operação foi batizada de Máquinas de Lama porque investigadores apuraram que parte dos pagamentos de propina era feito por meio do aluguel de maquinário. Outras fases foram nomeadas Fazendas de Lama e Aviões de Lama.
A primeira etapa da operação foi em 2015, com base em investigações que começaram em 2013 e sobre o período de 2011 a 2014.