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Jeff Machado: O impacto psicológico das mortes precoces e inesperadas

Andréa Ladislau (*) | 30/05/2023 13:30

Jeff Machado, um ator de 44 anos, após meses desaparecido, é encontrado morto enterrado em uma mala concretada no quintal. Uma tragédia que chocou por seus requintes de crueldade e por ainda pairar mistérios no crime, que precisa ser desvendado.

No entanto, é uma perda que nos faz repensar a morte e repensar a vida. Um rapaz em busca do sucesso que, misteriosamente, se silencia para a família e para os amigos.

E como lidar com as perdas inesperadas de pessoas queridas? Como lidar com o sumiço imediato de pessoas que, em um piscar de olhos, sabemos que nunca mais veremos? Estamos preparados para isso?

Dizer que a vida é um sopro, acaba sendo uma redundância. Despedidas não são fáceis. Estamos a todo momento ouvindo que podemos partir a qualquer tempo. Ouvimos e muito essa frase.

É claro que, sabemos todos que não há uma morte anunciada. E, infelizmente, essa consciência só se faz realmente presente quando vemos a morte se aproximar de alguém que conhecemos.

A grande verdade é que estamos sempre envolvidos na pressa de viver. Na urgência efêmera da vida que nos agita e nos leva a extremos de sensações e sentimentos. E este é, talvez, o principal motivo pelo qual evitamos pensar na morte. E tudo bem por isso.

A angústia, o medo e a insegurança do ser humano estão alicerçados exatamente na condição de não conseguir controlar o que irá acontecer no minuto seguinte.

Quando as questões fogem das nossas mãos nos sentimos vazios, frágeis e perdidos. Porém, a empatia deve estar presente em todo o processo de elaboração do luto, uma vez que o mais importante é não haver julgamentos, afinal cada um irá reagir e viver seu momento da forma como aprendeu, da forma como consegue e da maneira como processa e compreende suas perdas.

Perdas súbitas e inesperadas podem nos levar, naturalmente, a desconfortos físicos e emocionais. Tristeza profunda, dores no peito, sensações de afogamento e até a momentos de depressão profunda; reações dolorosas que podem surgir e se perpetuar quando não exploradas todas as etapas do luto.

Estudos demonstram que os estágios precisam ser vividos para que a aceitação, última etapa do luto, venha coroar a necessidade real de seguir a vida. De continuar trilhando seu caminho, mesmo com a memória do outro que se foi.

Nestes momentos, lembramos dos beijos que não demos. Dos abraços que ficaram escondidos. Dos afetos que nunca chegamos a retribuir ou expressar. Vem a indignação e a culpa velada no inconsciente. Pois, sempre acreditamos que ainda teremos tempo de aparar arestas, de aproveitar mais, ou mesmo de viver aquilo que postergamos. Estamos sempre sofrendo por antecipação.

Aliás, o ser humano vive a dor do futuro e esquece do momento presente. No entanto, uma lição que deve ser aprendida com a importância de se vivenciar o luto é que, nenhuma morte será capaz de apagar a memória de quem vive em nós, mesmo que a interrupção seja abrupta e precoce.

Enfim, a história de Jeff Machado e tantas outras pessoas que se vão repentinamente, nos remete a que pensamento? São muitas as respostas, mas uma é certa: o que temos para viver é o hoje. Pensar na falta que a vida lhe fará um dia, refletir sobre nossa vida agora.

Morrer é inevitável, mas viver bem é uma arte diária que temos o privilégio de saborear. Portanto, viva hoje amando, dizendo o quanto ama, demonstrando afeto, favorecendo seus desejos, buscando leveza para seus dias e sua alma, se afastando de tudo o que lhe traz sensações desagradáveis e lhe tira a paz. Isso sim está na sua mão.

Está em seu controle. Valorize sua vida e sua história que é única. Lembrando sempre que você é o amor da vida de alguém. Portanto, honre a vida e cuide cada vez mais de suas relações. Isso ajuda a minimizar a dor da perda e a criar mais empatia.

Afinal, episódios como esse mostram o quanto a morte pode ridicularizar as nossas urgências, revelando nossas fragilidades, além mostrar a importância de observar os pequenos detalhes da vida, gerando leveza e paz através do cultivo de bons hábitos que favoreçam o equilíbrio da saúde física e mental.

(*)  Andréa Ladislau é psicanalista.

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