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Capital

Apontada como “professora” em decapitação, “Emanoma” nega ter matado pelo PCC

O julgamento de seis integrante da facção pela morte de “Coroa” entra no segundo dia nesta quinta-feira

Geisy Garnes, Aletheya Alves e Bruna Marques | 01/07/2021 09:23
Emanoma no plenário do Tribunal do Júri na manhã de ontem (Foto: Marcos Maluf)
Emanoma no plenário do Tribunal do Júri na manhã de ontem (Foto: Marcos Maluf)

Entre os seis réus que são julgados no segundo dia consecutivo pelo assassinato de José Carlos Louveira Figueiredo, o "Coroa" – encontrado decapitado na região da Cachoeira do Ceuzinho em 2017 – um nome se destaca no planejamento da execução: Pamella Almeida Ribeiro, conhecida como “Emanoma”. Seria ela, segundo o Ministério Público, que orientou os comparsas a como arrancar a cabeça do homem sentenciado a morte pelo PCC (Primeiro Comando da Capital).

Junto com Kaio Batista de Oliveira, Luan Loubert Barros, Nilton Gauta Evangelista, Cleia Ricarda Aveiro e Henrique Leandro da Silva Pelegrino, Pamella é submetida a julgamento pela 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande.

Os depoimentos começaram na manhã de ontem, mas o número de réus fez com que a fase de manifestação das defesas e do Ministério Público se estendesse até o fim do dia sem chegar de fato ao fim. Por isso, os jurados do Conselho de Sentença foram levados para hotel e só retornaram ao plenário nesta manhã.

São eles que vão julgar se o processo apresenta provas suficientes para condenar Pamella por participação na execução de José Carlos. O que para a promotoria, há de sobre em todo procedimento criminal. Ao falar sobre sua versão dos fatos, no entanto, a ré contestou toda a acusação e afirmou ter apenas levado o filho da vítima até um projeto social que atende dependentes químicos.

Acontece que o filho de “Coroa”, na época com 16 anos, também foi sequestrado pelos integrantes da facção paulista e mantido em cárcere com o pai por cinco dias. Presenciou as agressões, o julgamento e a sentença: o pai condenado a morte e ele “absolvido”. Foi então liberado.

Segundo a polícia, Emanoma foi quem separou o jovem do pai após a “sentença” do Tribunal do Crime, permaneceu com ele por mais um dia em cativeiro, em residência do Bairro Moreninhas e depois o levou até uma clínica de reabilitação. O menino foi deixado lá e só então conseguiu avisar a polícia sobre o crime.

Durante depoimento, Emanoma negou participação na morte de Coroa (Foto Marcos Maluf)
Durante depoimento, Emanoma negou participação na morte de Coroa (Foto Marcos Maluf)

“Coroa” foi encontrado decapitado dias depois e o avanço das investigações da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio) mostraram que a participação de “Emanoma” na execução e dentro dos crimes da facção, era muito mais efetivas do que aparentava.

Com posição de poder dentro da facção, a mulher, conforme as investigações, foi a responsável por arrumar as “cantoneiras” [casas em que as vítimas foram mantidas refém] e coordenar os envolvidos na execução por telefone. De forma cruel, explicou aos comparsas como decapitar a vítima, quando viu que não conseguiria, terminou de cortar a cabela e ainda fotografou o corpo para “comprovar” a morte exigida pelos criminosos da cúpula do PCC.

Nesta quarta-feira (30), o áudio em que Emanoma ensina a arrancar a cabeça de “Coroa” foi reproduzido no plenário do Tribunal do Júri. O som da execução mostra a brutalidade do crime e ao fundo, a voz feminina. “Tem que puxa o pescoço”. Em ligação, a mesma mulher explica aos líderes da facção o processo da morte e a desova do corpo.

Sentada no banco dos réus Pamella ouviu os áudios sem demostrar qualquer emoção. Com calma, a mesma que manteve durante todo o julgamento, negou ser a voz por trás das orientações do assassinato. “Não sou eu no áudio. Me papel foi pegar o adolescente e levar até o projeto”, afirmou.

A versão contada por ela no tribunal é a de alguém que acreditava estar “ajudando”. Pamella alega que Cleia Ricarda Aveiro, também ré no processo, a chamou para levar o menino até a clínica de reabilitação. Elas foram então até o Bairro Moreninhas, encontraram o filho de “Coroa” em uma esquina e o levaram até o projeto.

“Antes fui conhecer o projeto, me certifiquei dos cômodos. Me responsabilizei pelo menor”. Na recepção, no entanto, deu nome falso e se identificou como amiga. “Não há necessidade de as pessoas saberem quem sou. Eu não seria a primeira a fazer isso”.

Aos jurados afirmou que não percebeu se o menino estava machucado, que não fez isso por ordem do PCC e que só aceitou ajudar por já ter perdido o pai de um dos três filhos para a droga.

“Se me pedissem mais uma vez, eu faria de novo”.

Questionada pelos motivos de estar presa, Emanoma contou que tem duas passagens por tráfico, crime pelo qual foi condenada há dez anos. Da vida no crime, afirmou, herdou o apelido, que em tupi-guarani quer dizer “já morreu, meu amigo”. “Esse apelido é do passado, de 5 anos atrás. Não sou faccionada ou simpatizante”.

Nesta manhã, no segundo dia de audiência, réus acompanharam o júri por vídeo (Foto: Henrique Kawaminami)
Nesta manhã, no segundo dia de audiência, réus acompanharam o júri por vídeo (Foto: Henrique Kawaminami)

Condenados – Outras cinco pessoas já foram condenadas pelo crime. Em maio, outros quatro integrantes da facção foram condenados por participar da morte de “Coroa”. David Samuel Boaventura Salvados, Nicolas Kelvin Soares Montalvão, Denilson Bernardo Arruda e Carolina Gonçalves de Matos, somaram mais de 103 de pena por envolvimento na execução.

Denilson de 27 anos, e Carolina, de 40, pegaram, cada um, 27 anos atrás das grades. Já David Samuel foi condenado a 24 anos de prisão e Nicolas Kelvin Soares Montalvão, de 22 anos, foi sentenciado a 25 anos e 5 meses de prisão.

Em fevereiro deste ano, Adriano Hilário dos Santos, 35 anos, conhecido como Kaique, foi condenado a 20 anos e seis meses de prisão e 20 dias de multa pela participação na morte de José Carlos.

Julgamento foi retomado na manhã desta quinta-feira em Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)
Julgamento foi retomado na manhã desta quinta-feira em Campo Grande (Foto: Henrique Kawaminami)


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