Em julgamento, réu confessa ter matado "Coroa" para defender adolescente
José Carlos Louveira Figueiredo, o "Coroa" foi encontrado decapitado na Cachoeira do Ceuzinho em 2017.
O plenário do Tribunal do Júri recebe nesta quarta-feira (30) seis suspeitos de envolvimento na morte de José Carlos Louveira Figueiredo, o "Coroa" – encontrado decapitado na região da Cachoeira do Ceuzinho em 2017. O primeiro a prestar depoimento, Kaio Batista de Oliveira, confessou ter matado a vítima com duas facadas no pescoço para defender filho de integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital). "Podia ser meu filho", afirmou.
Para o julgamento desta manhã, estão no banco dos réus: Kaio Batista de Oliveira, Luan Loubert Barros, Nilton Gauta Evangelista, Cleia Ricarda Aveiro, Henrique Leandro da Silva Pelegrino e Pamella Almeida Ribeiro
O júri começou pouco antes das 9 horas com o depoimento de Kaio. Diante do Conselho de Sentença ele confessou o assassinato brutal e deu detalhes do envolvimento de cada um no crime.
Afirmou, que não faz parte do PCC, mas é “companheiro” da facção e recebeu pedido de apoio de Nilton Gauta Evangelista, o "Pezão", para resolver a situação entre “Coroa” e o filho dele, adolescente conhecido como "Tio Patinhas". Ainda assim, negou ter matado a mando dele.
Kaio afirmou que “Tio Patinhas” tinha uma dívida de drogas com “Coroa” que passou a ameaçar o garoto para receber. Determinado dia, afirma, viu a vítima correr atrás do adolescente com uma faca e precisou intervir na situação. Segundo ele, na ocasião o menino estava com um bebê de cinco anos no colo, que acabou ferida.
“O tio patinhas estava com uma criança de 5 anos no colo, e aí o velho foi dar uma facada e passou na criança. Não fomos atrás dele por causa de facção, mas poque ele queria matar uma criança. Eu fui matar ele em cima do que fez com a criança”, afirmou.
Com ajuda de dois comparsas, adolescente chamado de “Puro Ódio” e Nicolas Kelvin Soares Montalvão – já condenado pelo crime -Kaio sequestrou o “Coroa” e o levou para a primeira cotoneira, casas usadas como cativeiro durante Tribunal do Crime. O rapaz firmou que no local, agrediu a vítima e questionou os motivos dela tentear matar “Tio Patinhas”, em reposta ouviu que era apenas pela dívida.
“Fizemos as perguntas pro velho, porque ele queria agredir o guri. Ele disse que o guri estava devendo ele. Fui eu que matei o velho em cima do que ele fez com o filho do Nilton Gauta. Podia ser meu filho naquele momento”, confessou.
Kaio explicou que após as agressões na primeira cantoneira, levou a vítima para outras duas casas, na última o matou com duas facadas no pescoço. “Puro Ódio”, nas palavras dele, foi quem arrancou a cabeça. Nicholas também estava na cena do crime e ajudou a colocar o corpo dentro do carro de Henrique Leandro. Juntos levaram “Coroa” até o Ceuzinho e o jogaram da cachoeira.
No caminho, com o corpo no porta-malas, chegaram a comprar combustível, mas não usaram. Kaio descartou a participação de alguns “colegas”: afirmou que Luan estava dormindo em uma das cantoneiras, que Pamella apenas tirou foto do corpo após o assassinato, que Cleia não estava nos locais e Carolina e Denilson apenas limparam o chão onde mataram a vítima.
Em depoimento, Nilton Gauta nega qualquer participação no crime, ter "pedido a cabeça" da vítima pelas ameaças ao filho e até fazer parte da facção criminosa. Alegou apenas que estava preso na época e foi acusado injustamente pelo envolvimento do filho.
Para realizar o júri, o juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Aluízio Pereira dos Santos, pediu reforço na segurança do Fórum e por isso duas equipes do Batalhão de Choque montam guarda no plenário nesta manhã.
Condenados – Outras cinco pessoas já foram condenadas pelo crime. Em maio, outros quatro integrantes da facção foram condenados por participar da morte de “Coroa”. David Samuel Boaventura Salvados, Nicolas Kelvin Soares Montalvão, Denilson Bernardo Arruda e Carolina Gonçalves de Matos, somaram mais de 103 de pena por envolvimento na execução.
Denilson de 27 anos, e Carolina, de 40, pegaram, cada um, 27 anos atrás das grades. Já David Samuel foi condenado a 24 anos de prisão e Nicolas Kelvin Soares Montalvão, de 22 anos, foi sentenciado a 25 anos e 5 meses de prisão.
Em fevereiro deste ano, Adriano Hilário dos Santos, 35 anos, conhecido como Kaique, foi condenado a 20 anos e seis meses de prisão e 20 dias de multa pela participação na morte de José Carlos. -
Tribunal do Crime – Investigações da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio) apontaram que a vítima foi “condenada” pela facção por ameaçar o filho de um dos integrantes, mas também por vender drogas para integrantes do Comando Vermelho.
No entanto foi pelo desentendimento com o adolescente, conhecido como “Tio Patinhas” que se tornou alvo do Tribunal do Crime do PCC.
Por causa de uma dívida de droga, a vítima começou pressionar o garoto para receber. Para se “livrar de ameaças” feitas por “Coroa”, o adolescente pediu ajuda do pai, Nilton Gauta Evangelista. A mãe do garoto também resolveu interferir na situação e pediu ajuda ao PCC.
Cleia Ricarda, a “Paraguaia”, era “sócia” de José Carlos e do filho em uma boca de fumo, mas assim que facção se envolveu na situação, ela entregou a rotina do parceiro para poder ser absolvida pelo PCC por participar das negociações de droga com o grupo rival.
Pamella, a “Emonoma”, tinha “posição de poder” dentro da facção e foi a responsável por toda a coordenação da execução, por arrumar as “cantoneiras” [casas em que as vítimas foram mantidas refém] e coordenar as equipes encarregadas do crime, tudo por telefone. Foi ela também, a autora da decapitação da vítima.
Segundo o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), foram Kaio, Davyd Samuel e Nicolas, comandados por Cleia, sequestraram José Carlos e o filho dele.
Ainda conforme a denúncia, Kaio, Thiago Pereira, e os adolescentes conhecidos como “Puro Ódio” e “Tio Patinhas”, ajudaram a manter a dupla em cárcere privado até o “julgamento” de José Carlos. Conforme as investigações, durante todo o tempo que esteve em poder da facção, a vítima foi agredida e torturada.
A ordem para a execução de “Coroa” foi dada no dia 22 de novembro, por Nilton Gauta Evangelista, o Pezão, pai de “Tio Patinhas” e interno do Presido de Segurança Máxima de Campo Grande, onde desde a época do crime cumpre pena pelo crime de latrocínio. O corpo de José foi encontrado no dia 23 de novembro, na região da Cachoeira do Ceuzinho.