Em sete anos, triplica número da população de rua que vive em MS
Desemprego, abuso de drogas e desfazimento de relações familiares são principais causas do problema
O número de pessoas em situação de rua triplicou em sete anos em Mato Grosso do Sul. Os dados são do Cadastro Único do Governo Federal que monitora esse público, sobretudo os que entre eles recebem algum benefício ou auxílio, como o Bolsa Família. Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) baseado nesses dados indica que deficit habitacional, desemprego, baixa escolaridade, pobreza e cortes em programas sociais são as principais causas do aumento da população de rua.
Entre setembro de 2016 e setembro de 2023, conforme o CadÚnico, de 404, aumentou para 1.545 o número de pessoas que passaram a morar na rua em Mato Grosso do Sul, com maior concentração – cerca de 891 – em Campo Grande. Em seguida, aparecem Dourados com 184 pessoas e Três Lagoas, com 149.
Além das causas sociais desse problema, há ainda as causas de saúde, uma vez que “fatores de vulnerabilidade 'individuais'”, segundo o Ipea, também provocam essa “busca por refúgio” nas ruas. Entre as razões estão elencadas: negligências e abusos durante a infância; deficiências crônicas; transtornos mentais; e uso abusivo de drogas.
A ruptura de laços familiares e outras relações (trabalho ou amigos) também estão entre as causas que levam as pessoas a decidirem pela situação de rua. “A fragilização e o rompimento de vínculos familiares e comunitários, incluindo as relações de amizade, também levam as pessoas à situação de rua. É comum que pessoas em situação de desalento econômico procurem morada na casa de parentes e mesmo amigos; quando esses vínculos são fragilizados, particularmente os vínculos familiares, a pessoa perde uma importante rede de proteção social”, cita a publicação “A População em Situação de Rua nos Números do Cadastro Único”, do Ipea.
Pandemia – Mas a pandemia também tem sua parcela de culpa nesse processo, já que o isolamento acabou definhando ainda mais relações já fragilizadas. “Para a população mais pobre nas periferias, que muitas vezes mora em lugares pequenos, sem muito espaço de privacidade, o confinamento foi ainda mais perverso. Isso contribuiu para que os conflitos familiares se convertessem em brigas mais sérias, e por vezes em situações de violência doméstica”.
Mais que isso, o isolamento, em conjunto com as perdas provocadas pela covid-19, afetou a saúde mental, “em um contexto de aumento do desemprego, de aumento da fome, de isolamento social, muitas vezes de conflitos familiares muito sérios, os transtornos mentais afloram, e a busca por uma fuga da dura realidade se torna mais atraente”.
De onde vem? - Grande parte de quem mora nas ruas de Mato Grosso do Sul é brasileira, de estados do Nordeste e negra, mas há entre eles 48 venezuelanos. “Entre os domiciliados, é comum a migração do interior para as periferias metropolitanas, em que se busca ficar próximo o suficiente das oportunidades de emprego e renda disponíveis nos centros econômicos, mas não tão próximo a ponto do custo de moradia se tornar proibitivo”.
Por fim, em todo o Brasil, 68% do total da população de rua se considera negra, sendo 51% pardos e 18% preto. Em Mato Grosso do Sul, são 862 pardos e 154 pretos, conforme o CadÚnico.
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