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Política

Família de Rocaro cobra justiça em audiência sobre violência contra jornalistas

Wendell Reis | 09/03/2012 12:25

Familiares compareceram a audiência vestidos com camisetas dizendo: “Calaram sua voz... Mas nunca vão apagar o seu trabalho” (Foto: Wendell Reis)
Familiares compareceram a audiência vestidos com camisetas dizendo: “Calaram sua voz... Mas nunca vão apagar o seu trabalho” (Foto: Wendell Reis)

Os familiares do jornalista Paulo Rocaro, 51 anos, assassinado no dia 12 de fevereiro, pediram a elucidação do crime durante audiência pública na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Vestidos com camisetas com dizeres: “Calaram sua voz... Mas nunca vão apagar o seu trabalho”, os familiares protestaram contra a demora nas investigações.

Os familiares foram representados pelo jornalista Edmondo Tazza. No pronunciamento, Edmondo declarou que a Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública) ficou de enviar um servidor da Delegacia Especializada em Homicídio para apurar o caso, o que, segundo ele, não ocorreu. “Pelo andar da carruagem, não vamos chegar a lugar nenhum. O delegado diz que tem hipóteses”, lamentou.

Tazza conta que exerce a profissão há 30 anos e já falou de juiz, promotor e até de delegado, mas nunca recebeu ameaça. Ele diz que vai a rua desarmado e tem com arma uma caneta. O jornalista acredita que o fato de fazer matérias com embasamento não lhe intimida, tendo em vista que faz questão de ouvir a versão de quem está sendo acusado. Apesar da morte do amigo, Tazza promete continuar com o trabalho.

“Não vai nos intimidar ou fazer calar a boca. Ao contrário, vamos continuar até que seja resolvido este caso... Vamos continuar publicando o que é de interesse da comunidade. Vamos fazer o que a sociedade fronteiriça quer. Doa prefeito, vereador, delegado ou qualquer um que seja, mas sempre com ética”.

O comandante da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Carlos Alberto Davi dos Santos, analisa que todo caso de homicídio merece uma investigação detalhada e as ocorrências contra a imprensa são ainda mais preocupantes: “O papel da imprensa hoje funciona como sustentáculo da democracia brasileira. É necessário que esta imprensa seja livre para falar aquilo que deve ser falado e informar a sociedade daquilo que deve ser informado”.

O comandante da PM disponibilizou a equipe para atender os profissionais que se sentem ameaçados e precisam de medidas de proteção. Davi avalia que as ações realizadas em parceria entre o Governo do Estado e o Governo Federal vão garantir maiores condições de segurança na região de fronteira.

Audiência reuniu representantes da imprensa e do poder público(Foto: Wendell Reis)
Audiência reuniu representantes da imprensa e do poder público(Foto: Wendell Reis)

Cobrança - O propositor da audiência, deputado Alcides Bernal (PP), explica que a Assembleia Legislativa não pode fugir da responsabilidade e deve garantir a segurança dos jornalistas, tendo em vista que muitos profissionais do Estado sofrem perseguições.

O deputado acredita que os casos de violência contra a imprensa revela o desespero do “estado paralelo”, onde poderosos decidem quem deve viver ou morrer. Com a audiência, o deputado pretende extrair o que está sendo feito pela secretaria de Justiça para garantir a segurança dos profissionais. Ao final da audiência será encaminhada uma carta cobrando ações, principalmente para esclarecer a morte de Rocaro.

O jornalista Geraldo Ferreira, dono do site “O arrastão”, conta que recebeu ameaças de morte ao fazer uma matéria em novembro do ano passado sobre uma operação da Polícia Federal para combater o contrabando. Segundo ele, uma pessoa postou um comentário com ameaças de que lhe pegaria em sua residência. O jornalista alega que descobriu o endereço da pessoa que fez a ameaça e informou à polícia, mas não recebeu resposta sobre o ocorrido.

O promotor de Justiça, Paulo Sérgio Passos, lembra que o tráfico movimenta uma enorme quantidade de dinheiro e as reportagens acabam incomodando. Ele ressalta que a morte de Rocaro não é um caso isolado, mas garante que o MPE (Ministério Público Estadual) está acompanhando as investigações para punir com rigor os envolvidos.

A presidente do Sindjor-MS (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul), Vanessa Amin, relata que resta ao sindicato a cobrança de investigações para identificação dos culpados pela violência contra a imprensa. Ela acredita que na maioria dos casos, parece faltar vontade dos envolvidos para esclarecer os crimes.

Vanessa conta que um estudo da Fenaje (Federação Nacional dos Jornalistas), realizado em 2012, revela que a maioria das agressões são realizadas contra profissionais que abordam problemas na política e que envolvem o poder público. A presidente do Sindjor avalia que os profissionais que trabalham com o jornalismo investigativo precisam ter as mínimas condições para o trabalho, que seriam seguro de vida e colete à prova de balas.

Paulo Rocaro foi baleado na noite do dia 12, um domingo, quando seguia num Idea pela avenida Brasil. O jornalista retornava da casa do ex-prefeito de Ponta Porã, Vagner Piantoni (PT), de quem era amigo. Os tiros foram disparados por um motociclista. Rocaro morreu na madrugada de segunda-feira, no hospital. O jornalista era editor-chefe do Jornal da Praça e diretor do site Mercosul News.

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