Após denúncia por abuso, ex-chefe da Polícia Civil é investigado por fraude
MP apura furos em lacres que continha cartão com imagens de perseguição no trânsito envolvendo Adriano Garcia
Depois de ter denúncia por abuso de autoridade acatada pela Justiça, o ex-delegado-geral Adriano Garcia Geraldo agora é investigado por fraude processual. A 64ª Promotora de Justiça abriu procedimento investigatório criminal para verificar duas aberturas em envelope plástico onde estava o cartão de memória da câmera do carro da mulher que foi perseguida no trânsito pelo delegado.
Segundo a promotora de Justiça, Cristiane Amaral Cavalcante, apesar do restante do procedimento ter sido arquivado, como pode ser conferido aqui, “um fato específico contido no presente procedimento investigatório merece atenção e investigação própria”, referindo-se à possível violação do envelope e manipulação do cartão.
O fato é descrito em nota técnica emitida pelo setor técnico do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) que identificou o lacre em questão estava com dois rasgos, “pelos quais poderia passar um cabo e conectar no cartão de memória”. O mesmo laudo verificou que “além disso, restou comprovado que o cartão de memória foi manipulado de modo a inviabilizar qualquer perícia”.
O Gaeco ainda definiu que as duas aberturas poderiam propiciar a passagem do cartão de memória que estava fixado por meio de três grampos no fundo do envelope, “bem como a passagem de cabos que permitiriam a conexão com a referida câmera”.
Para a 64ª Promotoria, esse fato caracteriza crime de fraude processual que precisa ser investigado. “(...) é imprescindível e necessária a apuração de quem teve acesso ao saco plástico de LACRE N.º (...) e quem poderia ter praticado tal delito”.
Vale destacar que o laudo do Gaeco tento restabelecer as imagens apagadas, mas não foi possível. A análise verificou ainda que além de não ter dados presentes, “todo o volume de armazenamento possui "zeros" - cenário característico de "formatação de baixo nível", ação esta que impede a recuperação de dados anteriormente armazenados”.
Inquérito policial encaminhado pela 3ª Delegacia de Polícia Civil informou em março do ano passado, um mês após a perseguição, que não seria possível que as imagens da câmera do carro fossem recuperadas porque o cartão estaria corrompido. Esta versão se manteve até agora.
A Polícia Civil, em inquérito encerrado em julho deste ano, concluiu que a artesã de 24 anos que “fechou” o ex-delegado-geral no trânsito e motivou a perseguição havia cometido dois crimes, mas Adriano havia agido no “estrito cumprimento do dever legal”.
Depois disso, o Ministério Público, através da 64ª Promotoria, fez denúncia por entender justamente o contrário: que a artesã foi vítima e que Adriano, que continua nos quadros da Polícia Civil como delegado de polícia, cometeu seis crimes.