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Capital

“Dois covardes”, afirma pai de garotinha assassinada sobre silêncio de réus

Sem saber o que o Gaeco achará em celular que foi para perícia, defesas orientaram que réus não falassem

Por Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 28/09/2023 19:42
Da direita para a esquerda, Jean Ocampo e o marido, Igor de Andrade (Foto: Juliano Almeida)
Da direita para a esquerda, Jean Ocampo e o marido, Igor de Andrade (Foto: Juliano Almeida)

Embora a opção por não responder perguntas em juízo tenha sido estratégia das defesas dos réus, para o técnico de enfermagem Jean Ocampo, pai de garotinha de 2 anos que morreu com sinais de espancamento em janeiro deste ano na Capital, o silêncio do casal acusado de assassinato foi demonstração de covardia. “São dois covardes. Mataram e não tiveram peito de assumir o que fizeram com ela”.

Ao chegar ao Fórum de Campo Grande para encarar pela segunda vez em oito meses Christian Campoçano Leitheim, 26, padrasto acusado de espancar a enteada até a morte, e a mãe da menina, Stephanie de Jesus da Silva, 24, que também responde por homicídio, Jean Ocampo disse que esperava ouvir confissão, o que não aconteceu.

“Se eles tivessem um pingo, um pingo de vergonha na cara e honestidade, eles falariam. Eles assumiriam. Eles foram capazes de fazer, mas eles não foram capazes de bater no peito e assumir que foram eles. Porque era uma criança, uma criança de 2 anos e 7 meses, que não tinha condições de se defender”, afirmou ao deixar a audiência, no fim da tarde desta quinta-feira (28).

Para o pai da vítima, apesar de nenhum dos dois ser réu confesso, não há dúvida que a filha foi vítima de homicídio. “Contra fatos não há argumentos. E o fato é que a minha filha morreu. E morreu na casa deles. Eles não querem falar, mas tem as provas. Então, eu espero que a justiça seja feita”.

Christian Campoçano Leitheim chegou a ficar de frente com juiz, mas não quis responder perguntas (Foto: Juliano Almeida)
Christian Campoçano Leitheim chegou a ficar de frente com juiz, mas não quis responder perguntas (Foto: Juliano Almeida)

Sem interrogatórios – Christian, que nunca deu sua versão sobre o que aconteceu no 26º dia de 2023, tinha a chance que “quebrar o silêncio” na tarde desta quinta-feira (28), mas preferiu não se comprometer. “Por orientação da minha defesa, eu vou ficar em silêncio”, disse.

Em solo policial, Stephanie afirmou que o marido batia na filha com o intuito de corrigi-la, negou que tenha testemunhado sessões de espancamento e jurou que levou a filha com vida para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento Comunitário) do Bairro Coronel Antonino, em janeiro deste ano. Mas, nesta tarde, também decidiu exercer o direito de não dizer nada que possa ser usado contra ela em julgamento. “Eu queria muito, muito mesmo, responder as perguntas para esclarecer a minha verdade, mas por recomendação da minha defesa, eu vou ficar em silêncio”.

Advogados recomendaram que os dois não falassem em juízo depois que o celular de Christian foi enviado ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) para perícia. A defesa do réu já havia pedido para que o interrogatório fosse adiado até que pudesse ter acesso ao conteúdo extraído dos aparelhos, mas o juiz Aluízio Pereira dos Santos negou.

Nesta quinta-feira, os advogados Pablo Gusmão, Willer Almeida, Renato Cavalcante e Arianne Siqueira voltaram a pedir o adiamento da audiência até que a perícia no celular fosse concluída e, novamente, o juiz negou, afirmando que o assunto já havia sido tratado no processo. Por isso, a defesa recomendou que Christian não falasse.

Christian Campoçano Leitheim, 26, e Stephanie de Jesus da Silva, 24, réus pela morte de criança de 2 anos durante audiência (Foto: Juliano Almeida)
Christian Campoçano Leitheim, 26, e Stephanie de Jesus da Silva, 24, réus pela morte de criança de 2 anos durante audiência (Foto: Juliano Almeida)

Os representantes de Stephanie, Camila Garcia de Rezende, Katiussa do Prado Jara e Pablo Chaves, fizeram o mesmo.

A última testemunha de defesa foi ouvida. O homem, conhecido de Christian, disse que conviveu com o casal algumas vezes e ressaltou o quanto a vítima tinha semblante de tristeza.

As acusações – Na tarde do dia 26 de janeiro deste ano, a menina deu entrada na UPA do Coronel Antonino, no norte de Campo Grande, já sem vida. Inicialmente, a mãe, que foi até lá sozinha com a garota nos braços, sustentou versão de que ela havia passado mal, mas investigação médica encontrou lesões pelo corpo, além de constatar que a morte havia ocorrido cerca de quatro horas antes da chegada ao local.

O atestado de óbito apontou que a menininha morreu por sofrer trauma raquimedular na coluna cervical (nuca) e hemotórax bilateral (hemorragia e acúmulo de sangue entre os pulmões e a parede torácica). Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen – sinal de que sofreu violência sexual.

O padrasto responde pelo homicídio e pelo estupro. Já a mãe da menina, pelo assassinato, como o Christian, mesmo que não tenha agredido a filha, mas porque, no entendimento do Ministério Público, ela se omitiu do dever de cuidar. No início deste mês, ambos foram denunciados pelo crime de tortura.

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