Luzia ainda não teve coragem de ver destruição da casa após estouro de barragem

"Não tem um dia sequer que eu não tenha chorado", desabafa a moradora Luzia Ramos do Prado, de 60 anos, que está há 19 dias sem casa após a água e a lama do rompimento da barragem do lago do loteamento Nasa Park levarem tudo o que tinha. Ela conta que ainda não teve coragem de voltar ao local. "Não faz bem para mim ficar revivendo isso".

Sentada na varanda da casa do ex-marido, onde se abrigou desde o acidente, Luzia fica emocionada ao falar do assunto. Em conversa com o Campo Grande News na manhã deste domingo (8), diz que não tem perspectivas de recuperar o imóvel, destruído pela água e pela lama.

Sobre a possibilidade de reconstruir, ela logo descarta. "Reconstruir não é uma opção, porque ali está contaminado. Veio muita coisa com a água. Não sei te explicar certinho o que tem exatamente lá, mas quando o pessoal veio, disseram que estava muito contaminado".

Além de peixes, outros animais criados por pequenos produtores também morreram no rompimento da barragem, e há uma grande quantidade de matéria orgânica em decomposição acumulada. A reportagem notou que o cheiro no local era muito forte.

Agora é que a ficha começou a cair que você não tem uma casa. E, a cada dia que passa, caio cada vez mais na real. Não tenho casa, não tenho para onde ir, não tenho roupa", lamenta Luzia.

Até o momento, ela não recebeu nenhuma indenização por parte da empresa Nasa Park. "A roupa é de doação, a casa é de favor, eu não tenho nada. Está tudo na lama", desabafa.

No dia do rompimento, Luzia estava em casa com as duas netas. Ela relata que não ouviu nenhum barulho antes, apenas o grito desesperado de seu filho, pedindo para que saíssem de casa imediatamente, pois a barragem havia rompido. "A gente saiu vivo por um milagre de Deus, em todos os sentidos. Se fosse de noite, com todos dormindo, todo mundo teria morrido", relembra.

Segundo Luzia, foram 37 anos morando naquela casa, destruída pela água e pela lama. "Eu criei meus filhos ali, estava criando meus netos. Agora, por causa da ganância dos outros, perdi tudo em segundos", diz, com a voz embargada. A casa destruída não era apenas um bem material, mas o lugar de suas memórias mais preciosas. "Tudo o que eu tinha estava naquela casa", lamenta.

Apesar de todo o sofrimento, Luzia ainda mantém a esperança de reconstruir uma nova casa na região, mas a 100 metros de onde ocorreu a tragédia. "Vou tentar reconstruir aqui mesmo, mas mais para cima. Tenho esperança de que esse dinheiro venha ainda este ano", afirma, referindo-se a uma possível indenização.

O caso - Conforme noticiado anteriormente, no dia 20 de agosto, a barragem do lago do loteamento Nasa Park, um condomínio de luxo localizado na região de Jaraguari, a 47 km da Capital, se rompeu. A força da água destruiu casas ao redor do loteamento, danificou o asfalto e bloqueou totalmente a BR-163.

Um dia após o rompimento da barragem, parte da BR-163 cedeu. O km 501, que fica entre Campo Grande e Jaraguari, acabou ficando comprometido devido à força da água e muita lama que passou pelo local. Entretanto, o asfalto foi recuperado.

Os proprietários da empresa responsável pelo loteamento foram multados em R$ 2,5 milhões pelo Governo do Estado. A empresa, enquanto pessoa jurídica, recebeu uma autuação de R$ 100 mil, totalizando R$ 2,6 milhões em multas relacionadas ao rompimento da barragem.

Na tarde da última sexta-feira (6), a Justiça concedeu uma tutela antecipada que determina o bloqueio de até R$ 35 milhões em bens das empresas responsáveis pela represa do loteamento Nasa Park.

A reportagem tenta contato com as empresas desde a decisão judicial, mas não obteve retorno.

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