Traficando pessoas, 59 coiotes já foram presos e indiciados em MS
A grande parte dos imigrantes que tentam entrar ilegalmente no Brasil são bolivianos
Receber dinheiro em troca do transporte de estrangeiros para dentro do Brasil é o que fazem os chamados coiotes, que agem como agentes de tráfico de pessoas. Aqui em Mato Grosso do Sul, em três anos, 59 deles foram presos na fronteira do Brasil com a Bolívia, praticando a migração ilegal.
Para se estabelecer de forma temporária ou permanente no Brasil, é preciso que o imigrante emita alguns documentos, o que custa tempo e dinheiro. Na tentativa de acelerar esse processo e garantir uma vaga de trabalho – certamente clandestina e análoga à escravidão –, os estrangeiros, geralmente bolivianos, se sujeitam ao traslado irregular através dos coiotes, rumo a São Paulo, onde são contratados.
Já houve até policial federal preso nesse esquema. Ele junto com outro servidor, além de estagiário que trabalhava no Posto de Controle Imigratório na fronteira com a Bolívia, recebiam de R$ 200 a R$ 300 para realizar falsas entrevistas e regularizar bolivianos forjando o sistema. Eles foram presos em novembro de 2018, durante a Operação Caronte. Todos eles foram condenados e as penas chegam a 11 anos de prisão.
Além deles, também em 2018, outras sete pessoas, todos coiotes, foram presas em flagrante pelo crime de promover migração ilegal para dentro do território brasileiro.
Em outra ação estruturada, a Polícia Federal cumpriu seis mandados de prisão preventiva e 11 de busca e apreensão durante as operações FoM’ale I e II, que ocorreram em agosto e novembro de 2021. Esquema de migração ilegal articulava a travessia de haitianos pelo local conhecido como “Trilha do Gaúcho”, na divisa do Brasil com a Bolívia.
“Nos períodos da manhã e noite, estes suspeitos buscavam meios de atravessar ilegalmente os migrantes, entre eles, diversas crianças e mulheres grávidas, sempre exigindo vantagem econômica para tal fim”, informou a PF em Corumbá.
Na investigação, os coiotes foram acompanhados pelos policiais e “foi possível observar que, ao menos uma vez, cidadãos haitianos foram abandonados no meio da rua, após os criminosos perceberem a aproximação da polícia”.
Maioria dos coiotes presos são brasileiros, seguidos de bolivianos e haitianos, que foram apenas três.
Bolivianos – A grande parte dos imigrantes que tentam entrar ilegalmente no Brasil são bolivianos. Conforme publicação de pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) na revista científica Mural Internacional, “são cobradas altas taxas, pelos chamados coiotes, que facilitam entrada dos ilegais”.
Além disso, o artigo relata que “as próprias agências de viagens ou atravessadores formam uma rede que também promove a migração ilegal de cidadãos bolivianos. A abordagem é feita por meio de anúncios de rádio locais e propagandas que oferecem oportunidades de trabalho com falsas promessas de lucros rápidos, prática comum em cidades como Santa Cruz de La Sierra, La Paz e Cochabamba”.
Sobre a “contratação para trabalho”, o artigo cita que, muitas vezes, “é o próprio empregador quem os recruta. Como, em geral, os emigrantes não têm documentos legais para entrar no país, é comum que os transportadores optem por um trajeto longo e longe do controle da imigração”.
De 2018 até agora, conforme levantamento da reportagem, foram cerca de 550 bolivianos flagrados entrando de forma irregular no Brasil. Numa das ações, em novembro de 2020, foram pelo menos 200 imigrantes ilegais resgatados em seis ônibus interceptados pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) na BR-262.
Em segundo lugar na quantidade de imigrantes trasladados, estão os haitianos, mas já houve identificação de chineses, libaneses e até sul-africanos.
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A superintendência da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul não liberou nenhum responsável para falar sobre o assunto com a reportagem.