Milícia da matança de "picolezeiro a governador" é lembrada em faixa pela cidade
Sem autoria explícita, faixas fazem alusão ao grupo acusado de matar estudante a tiros, em 2019
Pelo menos cinco faixas foram afixadas em locais movimentados de Campo Grande fazendo alusão à “milícia que planejou a maior matança da história de MS, de picolezeiro a governador”. Outras fases remetem a julgamento adiado e sem data prevista: o da morte do estudante Matheus Coutinho Xavier, ocorrida em abril de 2019.
O rapaz teria sido morto por engano, no lugar do pai, o ex-policial Paulo Roberto Teixeira Xavier, que seria desafeto dos empresários Jamil Name, o "Velho", e Jamil Name Filho, o "Jamilzinho", acusados de comandarem grupo de milicianos que agia em Mato Grosso do Sul.
Na Avenida João Arinos, sentido bairro, o cartaz tem data de 15 de fevereiro de 2023 e os dizeres sobre a milícia. Embaixo, a frase “Familiares das vítimas aguardam as condenações”. Outra faixa, idêntica, está foi colocada em uma cerca na Avenida Três Barras, sentido bairro.
Outras duas faixas, sem a data, podem ser vistas na rua lateral do Parque das Nações Indígenas, na Rua Ceará e na Rua Joaquim Murtinho, na cerca do antigo mercado. Nestas, além da referência sobre a matança de “picolezeiro a governador”, consta a frase “familiares das vítimas aguardam as condenações”.
Indícios - Embora não tenha assinatura e não faça referência direta, a data de 15 de fevereiro e a frase em latim, inscrita em todas as faixas, indica a possível autoria. “Filius meus te non relinquam” em tradução literal significa “Meu filho eu não vou te deixar”.
15 de fevereiro de 2023 era a segunda data prevista para o julgamento dos acusados pela morte do acadêmico de Direito, Matheus Coutinho Xavier. Antes, o júri tinha sido previsto para 28 de outubro de 2020, mas acabou adiado após apelação dos advogados dos acusados.
Foram denunciados Jamil Name Filho, “Jamilzinho”, o ex-guarda municipal Marcelo Rios e o policial civil Vladenilson Daniel Olmedo pela morte do estudante Matheus Coutinho Xavier. Os três foram acusados de homicídio qualificado por motivação torpe, sem chance de defesa da vítima e porte ilegal de arma.
O julgamento do dia 15 de fevereiro foi suspenso, pois a defesa insistia na presença dos réus em plenário. Sem tempo hábil para a transferência do Presídio Federal de Mossoró (RN) para Campo Grande, o júri foi adiado.
O juiz da 2ª do Tribunal do Juri, Aluízio Pereira dos Santos, remarcou para os dias 16 a 19 de maio, sendo avaliado que os réus poderiam participar por videoconferência. Novamente a defesa se opôs, até conseguir derrubar a data com o recurso no STJ.
O magistrado em Campo Grande decidiu aguardar o julgamento do mérito do recurso no STJ para definir nova data. No processo, o último andamento é de ontem, em que consta a a renúncia de Luiz Gustavo Battaglin Maciel, ou seja, a desistência de representar Jamilzinho no caso.
A reportagem não conseguiu entrar em contato com o ex-policial Paulo Roberto Teixeira Xavier.
Milícia -Matheus Coutinho foi executado a tiros, aos 19 anos, na porta de casa, no Jardim Bela Vista, no dia 9 de abril de 2019. A investigação aponta que o alvo era o pai dele, o ex-policial Paulo Roberto Teixeira Xavier, desafeto do grupo comandado por Jamil Name, o “Velho”, e Jamil Name Filho. O estudante foi atingido com sete tiros, sendo o disparo fatal na base do crânio.
Jamil Name teve o nome excluído do processo depois de sua morte, em maio de 2020, vítima de covid-19.
A menção à milícia nas faixas refere-se ao grupo comandado por Jamil e Jamilzinho Name e que foi desarticulado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) na Operação Omertà, realizada em 2019.
Sobre as mortes de “picolezeiro a governador”, conforme apurou o Gaeco, é trecho de mensagem trocadas por Jamilzinho com uma mulher, no dia 18 de abril, em que o empresário ressalta “que matarão da pessoa mais simples à mais importante dentro deste Estado da Federação”.