Crimes bárbaros que chocaram a redação e fizeram história na Capital
Há quem diga que jornalistas gostam de tragédia. Mas a ressalva apenas segue nosso ofício. Com ela arquitetamos parte do nosso trabalho, infelizmente. Entretanto, casos que chocam a sociedade, não passam indiferentes pela redação.
Era tarde de sexta-feira, 31 de agosto de 2012. A esperança falava mais alto. A tensão no Campo Grande News era evidente e todos aguardavam uma boa notícia. A então chefe de reportagem, Ana Paula Carvalho, foi a primeira a receber a informação, que não era boa.
Lembro-me com detalhes da decepção que abateu os profissionais. Os corpos dos universitários Breno Silvestrini, 18 anos, e Leonardo Fernandes, 19 anos, haviam sido encontrados na BR-262, em uma galeria de água pluvial, no anel viário. Cada deles com um tiro na cabeça.
A tristeza perdurou por várias publicações. O caso foi acompanhado com insistência; a reconstituição do crime, a prisão dos envolvidos e a desarticulação da quadrilha.
No dia 11 de setembro, o anel viário virou palco para reprodução do assassinato. Por telefone, eu repassava ao repórter Francisco Júnior as informações de como o crime aconteceu. “Até hoje a morte deles me arrepia”, relembrou Francisco.
Na corrida pelas informações, o Campo Grande News foi o primeiro a conversar com a família dos meninos. O pai de Breno, Rubens Silvestrini, relembra o contato e conta como acompanhou a tragédia pelo portal de notícias.
“Vocês foram os primeiros a falar com a gente. Acompanho o Campo Grande News sempre, mesmo quando estou fora. A cobertura de vocês sobre o assassinato, além de sensibilizar a população, também ‘cutucou’ a segurança pública e o Poder Judiciário”, afirmou.
“Foi uma cobertura na medida. Um belo trabalho jornalístico”, finalizou.
Em outro embate entre notícia e tragédias que marcaram a história do Estado, está o caso Rogerinho. Uma briga de trânsito. Uma criança morta. A dor virou consenso nas linhas publicadas e mais um caso chegou à redação.
Em novembro de 2009, o menino Rogério Mendonça Pedra de apenas dois anos foi a vítima. Mas a tragédia desta vez chegou ao outro lado e um jornalista estava envolvido no caso. Agnaldo Ferreira Gonçalves era réu confesso.
Ele disparou quatro tiros contra o veículo onde estava Rogerio, depois de uma discussão com o tio do menino, Aldemir Pedra Neto.
No banco de trás, inocente, a criança foi atingida no pescoço. Chegou a ser socorrida, mas não teve chance e morreu no hospital.
Nascia o caso Rogerinho, o qual o Campo Grande News acompanhou e noticiou incessantemente. Em 2010, com a conclusão das investigações, Agnaldo foi preso.
Hoje, o editor Edivaldo Bitencourt, na época repórter do Campo Grande News, relembra que ao chegar à redação depois do almoço recebeu as primeiras informações sobre a briga que acabara em drama familiar.
“Quando me disseram qual era veículo do jornalista, na mesma hora soube que era o Agnaldo. Dias antes, quando o encontrei , acompanhei ele até o carro”, conta.
As tragédias parecem ter o mesmo gosto e em cada uma delas a equipe de repórteres despende o mesmo labor, como no caso da estudante Marielly Barbosa Rodrigues, 19 anos.
Para se livrar de uma gravidez indesejada Marielly sai de casa no dia 21 de maio de 2011. Ela é encontrada morta em Sidrolândia, 21 dias depois de desaparecer.
Por meses o Campo Grande News acompanhou o desenrolar do caso. Um relacionamento com o cunhado Hugleice da Silva deu o norte à investigação.
Suspeitando de uma gravidez, a qual Hugleice seria o pai, eles tentam tirar a criança. O enfermeiro Jodimar Ximenes Gomes, faz o aborto, que não termina bem. A menina morre e o corpo é jogado em um canavial.
“Era o caso de maior relevância, então todos os dias havia muita pressão e tensão na redação para que déssemos informações novas sobre a história. Eu acompanhei de perto as notícias e tínhamos medo de levar um ‘furo’, por isso estávamos muito atentos”, conta Francisco Júnior.
O caso é encerrado em novembro de 2011. Hugleice e Jodimar foram indiciados por aborto e ocultação de cadáver.
Mais linhas e lá estava ela: a tragédia. Outro caso policial foi notícia em jornais de todo país. Em julho de 2010, uma arquiteta é morta pelo ex-marido em Campo Grande. A tragédia causou espanto e revelou o quanto a violência doméstica faz parte da rotina jornalística.
Eliane Nogueira, 39 anos, foi encontrada carbonizada dentro do próprio carro. Luiz Afonso dos Santos de Andrade, o ex-marido, depois de resistir, confessou o crime durante o julgamento.
Um impulso, desses que acometem profissionais que fazem a diferença em uma redação, levou a repórter Aline Queiroz a acompanhar o crime da arquiteta desde o início.
Na época, a decisão da jornalista também fez o Campo Grande News ser o único veículo de comunicação a ir até o local onde o carro havia sido incendiado.
“Durante a ‘ronda’ (por telefone), a tradicional ronda do Campo Grande News, a polícia me disse que havia um carro incendiado. Mas eu senti que havia mais do que isso. Parecia que a polícia sabia e não queria dizer”, lembra Aline.
Na época, Aline chegava ao jornal às 6 horas da manhã, e até às 7 horas postava as notícias sozinha.
“Eu tive que tomar uma decisão difícil. Ou deixava o site sozinho, sem notícias, e ia até o local onde estava o veículo, ou ficava na redação. E decidi ir. Assumi levar uma bronca, caso fosse apenas um carro queimado. É o que o online tem dessas coisas, ou você vai na hora ou não vai”.
O que Luiz guardava em segredo, Aline ouviu durante uma entrevista. “Quando eu conversei com ele, ele deu a entender que mudaria o discurso durante o julgamento”. E foi o que aconteceu. Luiz, que dizia ser inocente, confessou ter matado Eliane.
No dia-a-dia da redação, a violência doméstica tragicamente é comum. Casos e casos que rompem com os sonhos de uma vida. Em algumas circunstâncias, o ódio e a raiva culminam em morte, como foi o caso do procurador aposentado Carlos Alberto Zeolla, 46 anos.
No dia 3 de março de 2009, Carlos matou a tiro o sobrinho Cláudio Alexander Zeolla, 23 anos. O crime aconteceu em frente a uma academia de ginástica, na Rua Bahia, em Campo Grande.
O assassinato também ganhou repercussão nacional. Conforme as investigações, o procurador esperou pelo sobrinho dentro do carro, que era conduzido por um menor de idade, e atirou no sobrinho pelas costas. O motivo teria sido uma agressão do Claudio contra o pai de Zeolla.
Carlos foi preso no mesmo dia e acabou sendo aposentado compulsoriamente pelo Ministério Público Estadual.
“O fato foi muito chocante por vários motivos. Foi um crime à luz do dia, em um ponto movimentado da cidade, e ainda tem a questão do parentesco”, relembrou a repórter Fernanda Mathias, que à época trabalhava no Campo Grande News.
Zeolla foi condenado a 8 anos de prisão por homicídio qualificado pelo uso de recurso que dificultou a defesa da vítima.
Tragédia. Momentos que precisam ser descritos, contados e acompanhados, infelizmente.