Mulher de pedreiro acusado de assassinatos em série ganha liberdade
Presa desde maio por ajudar o marido em um dos crimes, Roselaine aguarda o julgamento em casa, com a filha
Presa desde maio do ano passado por participação na morte do comerciante José Leonel Ferreira dos Santos, de 62 anos, Roselaine Tavares Gonçalves, mulher de Cleber de Souza Carvalho – conhecido como “Pedreiro Assassino” – ganhou o direito de aguardar julgamento em liberdade.
A decisão é do dia 17 de dezembro. Ao decretar a liberdade de Roselaine, o juiz Aluízio Pereira dos Santos reconheceu a confissão de Cleber como único autor do assassinato, a denúncia de tortura feita por ela contra os policiais que a prenderam em maio do ano passado e a necessidade de cuidados com a filha Yasmin Natasha Gonçalves Carvalho, também acusada do crime e inocentada pela Justiça neste mês.
Yasmin foi considerada inimputável, ou seja, completamente incapaz de entender o que fazia ao supostamente ajudar o pai no assassinato do comerciante.
O diagnóstico veio com laudo de insanidade mental feito a pedido da defesa, que comprovou que a jovem possui "retardo mental não especificado e comprometimento significativo do comportamento". Na prática, apesar de ter 21 anos, Yasmin possui características de uma criança de 6 anos de idade.
A necessidade de cuidados constantes com ela, desta vez, pesou na decisão do juiz. Isso porque a jovem ganhou a liberdade definitiva em setembro e, desde então, vive com uma tia, que segundo os advogados Dhyego Fernandes Alfonso e José Vinicius Teixeira de Andrade, não consegue mais manter a sobrinha e chegou a perder oportunidade de emprego por ter que ficar com ela.
Além disso, o magistrado reforçou a denúncia de tortura feita por Roselaine contra os policiais responsáveis pela investigação do crime. Em juízo, ela revelou ter sofrido pressão psicológica e agressões físicas para confessar o crime do marido.
O relato também foi levado em consideração na decisão pela inocência de Yasmin, decretada pelo juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri e confirmada pelos desembargadores da 3ª Câmara Criminal de Mato Grosso do Sul. Em audiência, ela alegou ter confessado participação no assassinato, depois de ouvir a mãe gritar e chorar em uma sala enquanto prestava depoimento na delegacia.
Para ficar em liberdade até o julgamento da morte do comerciante, Roselaine precisará cumprir algumas medidas impostas pela Justiça, como a proibição de sair de Campo Grande sem autorização, o comparecimento mensal em juízo e recolhimento noturno nos fins de semana e feriados.
Apesar disso, para a defesa, a decisão representa a concretização de tudo que foi dito e provado no processo até agora. “A liberdade da Roselaine representa o resultado de toda instrução processual. Roselaine é inocente e está pronta para provar isso”, reforçou o advogado Dhyego Fernandes Alfonso.
Roselaine estava presa em Corumbá – cidade a 428 quilômetros de Campo Grande – e agora, volta para Campo Grande, onde deve cumprir as medidas cautelares estipuladas pelo juiz.
Enquanto isso, a defesa aguarda a realização da reconstituição do crime, medida essencial para confirmar a versão do próprio réu de que cometeu os crimes sozinho. “Os próximos passos são realizar a reconstituição do crime e produzir mais uma prova que Cleber agiu sozinho. A defesa acredita que com a realização do exame, a verdade dos fatos aparecerá”.
O pedido para reconstituição do crime partiu da defesa e foi aceito pelo juiz em setembro. Apesar disso, a polícia negou a possibilidade de refazer os últimos minutos de José Leonel com vida. Diante da situação, os advogados de Cleber e o próprio acusado reforçaram a necessidade do procedimento. Até o momento, não houve manifestação do juiz sobre o conflito.
Processo – Cleber responde a sete processos por homicídio. Sobre o morte de José Leonel, o pedreiro contou que combinou de alugar o cômodo aos fundos da casa da vítima, mas que para isso, mudaria uma porta de lugar. Começou a obra, mas acabou impedido pelo morador. Isso gerou uma briga entre os dois.
No meio da discussão, afirmou, José pegou uma faca e tentou atingi-lo. Ele reagiu e usou o cabo de uma picareta para acertar a vítima. Foram três golpes na cabeça. Cleber afirmou ainda que deixou José em um quarto da casa até o dia seguinte e só então foi até lá, sozinho, para enterrar o corpo.
Além de José Leonel, o pedreiro é acusado de matar Timóteo Pontes Romã, 62 anos, José Jesus de Souza, de 45 anos, Roberto Geraldo Clariano, de 50 anos, Hélio Taíra, 74 anos, Flávio Pereira Cece, 34 anos, e Claudionor Longo Xavier, de 47 anos. Todas as vítimas foram mortas com pauladas na cabeça.