No último júri, "Pedreiro Assassino" justifica 7ª morte e diz: "sou normal"
Cléber de Souza Carvalho é acusado de matar o jardineiro Hélio Taíra, 74 anos, a golpes de cabo de enxada

A exemplo dos últimos seis julgamentos, o pedreiro Cleber de Souza Carvalho, 48 anos, não esboçou arrependimento ou qualquer emoção ao explicar como matou a golpes de cabo de enxada o jardineiro Hélio Taíra e o enterrou sob o piso da casa que estava trabalhando.
“Enterrei porque fiquei com medo; como já tinha matado meu primo lá atrás, fiquei com medo da polícia me achar e enterrei ele. Não tenho problema, sou uma pessoa normal”, disse, hoje, durante depoimento prestado na 2ª Vara do Tribunal do Júri, em Campo Grande. O plenário está lotado com acadêmicos de Direitoe, ainda, os familiares da vítima: três irmãos, uma sobrinha e a cunhada.
Quase três anos depois de ser preso e confessar sete assassinatos que chocaram a cidade, o “Pedreiro Assassino” enfrenta o seu último julgamento, sendo acusado pelos crimes de homicídio qualificado por motivação fútil, emprego de meio cruel e por ocultação de cadáver.

A vítima havia desaparecido no dia 26 de novembro de 2016 e o corpo foi encontrado somente no dia 15 de maio de 2020, cerca de três anos e meio depois do sumiço, quando Cleber foi preso pela equipe da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio) e contou à polícia onde havia enterrado Taíra.
“Sem ajuda dele seria impossível localizar os cadáveres, esse [Hélio Taíra], foi certeiro; o corpo foi encontrado na entrada da lavanderia, no lado esquerdo do imóvel, estava até com piso assentado, ele [Cleber] falou para tirar duas faixas de piso que conseguiria achar”, descreveu o subtenente da PM (Polícia Militar), Flávio Andrade da Silva, que participou da localização da ossada da vítima, a 4ª desenterrada no dia 15 de maio de 2020.
Naquele dia, o “Pedreiro Assassino” havia sido preso pela morte do comerciante José Leonel Ferreira dos Santos, assassinado aos 61 anos, uma semana antes. A partir dali, foram relatados os crimes em série, a maioria, com motivação o roubo dos imóveis ou outros pertences das vítimas.
No caso do jardineiro Hélio Taíra, o réu alegou outro motivo. A morte aconteceu no mesmo dia que o homem desapareceu, no sábado, 26 de novembro de 2016. Disse que o havia contratado para limpar a calçada da casa na Vila Planalto, onde Cléber estava fazendo obra, do lado de dentro da casa.
Logo cedo, diz que ouviu Taíra falar algo. Saiu e disse que viu o homem chamar de “gostosinhas” duas estudantes que passavam pela rua, a caminho da escola. “Falei que não queria isso acontecendo na minha obra, queria respeito”, contou. Na plateia da sessão, familiares da vítima se indignavam com o relato. “Mentira!”, diziam.
O réu continuou. Disse que os dois discutiram e que Taíra foi para cima dele com um facão e o ameaçando. “Quero ver se você é o bichão mesmo”, teria dito o jardineiro. Com o cabo da enxada, o “Pedreiro Assassino” fez mais uma vítima: o atingiu no rosto e, depois que Taíra caiu, o golpeou na cabeça. “Ele caiu desacordado, deu três suspiros bem forte e parou; saiu sangue da boca dele”.
Depois de matar o jardineiro, resolveu enterrá-lo ali mesmo. Jogou saco da argamassa sobre ele, cavou buraco, jogou o corpo e colocou grama. “No intervalo de meia hora, enquanto cavava, fiquei observando ele”, disse o réu. “Era o lugar mais fácil, não ia quebrar o piso da dona para enterrar”.
Em seguida, pegou a caminhonete da vítima, jogou as ferramentas dentro e levou para o estacionamento de mercado na Mata do Jacinto. Chamou mototáxi, voltou para a obra e continuou a trabalhar. A arma do crime voltou a ser ferramenta. “Depois mexi na grama, concretei e, na quinta-feira, comecei a assentar o piso”.

Justiça – Tereza Soares, 71 anos, a cunhada de Taíra, disse que era a primeira vez que ouvia a versão apresentada para a morte de Taíra. “Nunca que ele ia fazer isso, isso aí dói, ele era trabalhador, pelo amor de Deus”, disse, emocionada. Ouvir o relato e ver o assassino foi difícil. “É ruim, né? Dá ânsia de vômito, mal estar”.
Em 2020, além do homicídio de Taíra, a família já havia sofrido com a morte de outros dois irmãos da vítima, por causas naturais, entre eles, o marido de Tereza. “Fiquei uma semana no hospital, quase morri”.
Em nome da família, diz que todos pedem justiça. “Se a dos homens não valer, a de Deus tem que valer”.
O advogado Dhyego Fernandes, que representa Cleber, disse que a defesa pede que o réu seja julgado de forma justa, cumprindo pelo que ele fez. “Não se pode maximizar a pena, ‘ah, ele matou 7’, não concordo com a qualificação”, explicou. A intenção é retirar a classificação de motivo torpe e emprego de meio cruel, já que ele alega ter se defendido e a justificativa é “motivação de honra”.
Cleber de Souza Carvalho já foi sentenciado a 96 anos e 3 meses de prisão. Segundo advogado, recursos no TJ (Tribunal de Justiça de MS) conseguiram reduzir alguns anos da pena, mas, hoje, fatalmente deve passar dos 100 anos.