Sem ordem judicial, PM já atuou ao menos 5 vezes contra indígenas desde 2018
Somente ontem, foram duas destas ocorrências, sendo uma em Amambai e outra em Naviraí
Pelo menos cinco ações próximas a áreas indígenas, como as de ontem da Polícia Militar, ocorreram desde 2017. Isso, quando se leva em conta atuação que não é respaldada por alguma decisão judicial, segundo o advogado Anderson Santos, do Cimi (Conselho Indigenista Missionário).
Somente ontem, foram duas destas ocorrências, sendo uma em Amambai, onde confronto ocorreu deixando um indígena morto e outros 11 feridos, entre eles, três militares do Batalhão de Choque. A outra foi em Naviraí, onde até o momento, três indígenas, entre eles uma criança, estariam desaparecidos.
O secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, negou que o Batalhão de Choque da Polícia Militar tenha ido à Amambai, a 351 quilômetros da Capital, para atender ocorrência de invasão em fazenda. Apesar do boletim de ocorrência registrado na quinta-feira (23) comunicando a ocupação de indígenas na fazenda Borda da Mata, em entrevista coletiva ontem, o secretário disse que a PM foi acionada por proprietários rurais por conta de tráfico de drogas e furtos em uma área que fica perto da aldeia. O Choque foi surpreendido por indígenas e revidou, segundo o secretário. Ele não comentou sobre a ocorrência em Naviraí.
Em 2018, a ocorrência foi em Caarapó, onde em junho de 2016, o agente de saúde indígena, Clodiode Aquileu Rodrigues de Souza, acabou morrendo em confronto com produtores rurais. Depois disso, na mesma região e sem nenhuma determinação da Justiça, houve acesso da PM na localidade. O local é na reserva Tey Kuê, na Fazenda Santa Maria.
Na ocasião, o idoso Ambrósio Alcebíades, na época com 70 anos de idade, foi preso em flagrante por roubo e resistência. Ele teria sido encontrado em uma das casas da sede da fazenda e investido contra os policiais armado com uma faca.
Um ano depois, em Aquidauana, indígenas da etinia kinikinau ocuparam a Fazenda Água Branca, de onde foram despejados pela Polícia Militar. Os kinikinaus tinham a posse da localidade, conforme o Cimi, mas acabaram sendo dispersados da área invadida. A justificativa, assim como na ocorrência em Caarapó, foi de invasão de indígenas em área particular.
A Polícia Federal, na época, respaldou a ação da PM, informando que a área não se tratava nem de terra indígena nem de área em litígio, sendo que, o que ocorreu foi uma invasão em um imóvel privado, com danos ao patrimônio privado.
Por fim, em fevereiro deste ano, também houve despejo de indígenas sem embasamento judicial pela PM. Foi na cidade de Rio Brilhante, em área conhecida como Laranjeira Nhanderu, da etnia guarani-kaiowá. Em 26 de fevereiro, os indígenas fizeram a ocupação e no dia seguinte foram retirados.
Na data, Batalhão de Choque disse que foi acionado para atender ocorrência de roubo e ameaça. Os índios haviam invadido a área, rendido o caseiro, roubado “algumas coisas da fazenda” e expulsado o caseiro da casa. Ainda conforme a polícia, foi utilizado o uso da força, porque os índios foram resistentes e não acataram a ordem de retirada.