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Capital

Envolvido em execuções encomendadas por policial de MS é condenado a 49 anos

Foram dois dias de julgamento em Minas Gerais para condenar um dos réus e absolver o filho dele

Geisy Garnes | 25/11/2021 14:11
Sílvio Molina e a esposa entram para casamento luxuoso de uma das filhas. (Foto: Facebook/Reprodução)
Sílvio Molina e a esposa entram para casamento luxuoso de uma das filhas. (Foto: Facebook/Reprodução)

Após dois dias de julgamento, um dos homens envolvidos no duplo assassinato supostamente orquestrado pelo subtenente da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Silvio Cesar Molina, foi condenado a 49 anos de prisão pela execução de Nasser Kadri, traficante conhecido como “Turcão” e Eneias Mateus de Assis, o “Gago”.

Autoria do crime foi comprovada, segundo denúncia do Ministério Público, com provas apreendidas durante a Operação Laços de Família, que em 2018, prendeu Molina como líder de esquema de tráfico de maconha na cidade sul-mato-grossense de Mundo Novo – cidade a 463 quilômetros de Campo Grande.

O crime, no entanto, aconteceu em Minas Gerais, mas foi motivado pela disputa do controle do tráfico na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Molina, Marco Aurélio Scheffer – que seria funcionário no esquema de tráfico do policial – Alan Faria Ruback e o filho dele, Gabriel Ferreira Ruaback, foram apontados como autores da execução.

Defesa de Molina é feita pelo advogado Marcos Ivan. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Defesa de Molina é feita pelo advogado Marcos Ivan. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

O policial militar e Marcos Aurélio recorreram da decisão que os mandou a júri popular, mas pai e filho foram levados a julgamento na cidade de Leopoldina na terça-feira (23). Os depoimentos começaram por volta das 9 horas e perduraram todo o dia. De noite, a sessão foi paralisada e retomada na quarta-feira (24).

Mais uma vez, os debates entre Ministério Público e defesa duraram o dia inteiro. A sentença veio 15 minutos antes da meia-noite. Gabriel Ferreira Ruaback foi absolvido por falta de provas. Já o pai dele, Alan Faria Ruback, foi condenado por duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, dissimulação e meio cruel) e sentenciado a uma pena de 49 anos de prisão em regime fechado.

Diante do júri, a defesa de Molina espera repetir o resultado do julgamento de Gabriel. “Diferente não pode ser, porque a única prova que existe em desfavor a Molina são fotos de um celular que não sabe de quem é a propriedade, que a polícia disse que achou na casa de Molina, contendo as fotos da execução”, explicou o advogado Marcos Ivan Silva.

Segundo o defensor, Molina de fato conhecia Alan e havia negociado com ele a venda de um carro. Também sabia quem era a vítima, Nasser Kadri, já que ela era conhecida na fronteira pelo envolvimento no tráfico em Mundo Novo, cidade em que o cliente trabalhava. “Nada mais liga Molina a essa horrenda conduta”, reforçou Marcos Ivan.

Subtenente Silvio Cesar Molina em foto publicada no Facebook. (Foto: Arquivo Pessoal)
Subtenente Silvio Cesar Molina em foto publicada no Facebook. (Foto: Arquivo Pessoal)

Entenda – O crime ocorreu em 9 de janeiro de 2018. Nasser Kadri, o “Turcão”, e Eneias Mateus de Assis foram assassinados em uma emboscada, com golpes de facas e tiros, na zona rural de Recreio, município de Minas Gerais. Depois de executados, tiveram os corpos jogados no Rio Pomba.

Apesar do crime ter acontecido em outro estado, Turcão viveu em Mato Grosso do Sul por anos e protagonizou, segundo a polícia, disputa pelo comando do tráfico de drogas em Mundo Novo – cidade a 463 quilômetros de Campo Grande – com a família de Molina.

Segundo a denúncia do Ministério Público de Minas Gerais, Silvio Molina e Nasser Kadri chefiavam organizações criminosas rivais no município sul-mato-grossense e ao longo dos anos, ordenaram ataques violentos um contra o outro.

Em março de 2015, Nasser e o irmão foram vítimas de atentado. Meses depois, em retaliação, tentaram matar o filho do subtenente da Polícia Militar, Jeferson Molina, que conseguiu escapar e ainda executou um dos pistoleiros.

Quase dois anos depois, um novo atentado terminou com a morte de Jeferson a tiros. Os conflitos e investigações da polícia sobre o crime fizeram Nasser mudar de Mundo Novo para Lagoa Santa, região Metropolitana de Belo Horizonte. Na cidade mineira, vivia com identidade falsa, longe das acusações do interior de Mato Grosso do Sul.

Molina, no entanto, tinha “negócios” com Alan Faria Ruback e o filho Gabriel Ferreira Ruback, ambos moradores de Minas Gerais e durante o réveillon de 2017/2018, em uma festa na cidade de Cabo Frio, Rio de Janeiro, combinou com a dupla o assassinato do rival. O funcionário Marcos Aurélio Scheffer também participou da conversa.

Para matar Nasser, pai e filho simularam interesse na compra de drogas e combinaram de encontrá-lo em uma propriedade rural de Recreio. No dia 9, a vítima viajou na companhia de Eneias, seu funcionário de confiança, até o município, na expectativa de trocar uma carga de drogas por automóveis.

Quando chegaram ao local combinado, no entanto, encontraram Alan, Gabriel, Molina e Marcos Aurélio. Foram encurralados e executados. Segundo os laudos, as vítimas foram esfaqueadas e baleadas diversas vezes. Depois, foram jogadas no Rio Pomba.

Após a execução, alega o Ministério Público, os quatro envolvidos roubaram o carro que estava com as vítimas, uma BMW 320, e o levaram para o Paraná. O veículo foi abandonado e apreendido dias depois, no município de Araucária.

Apesar dos conflitos entre Molina e a vítima, a morte de “Turcão” só foi atribuída ao policial com a Operação Laços de Família. Durante o cumprimento dos mandados busca e apreensão, os policiais encontraram ligações entre os suspeitos e também um celular sem chip em que estava armazenado fotos das vítimas.

Foi a partir disso, que Molina passou a ser apontado como mandante do crime. O advogado Marcos Ivan, no entanto, alega na Justiça a falta de provas e prejuízo na defesa do policial em virtude a tese adotada pelo defensor anterior a ele.

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