Casas demolidas são o que restaram de R$ 2,7 mi repassados à ONG para projeto
Inquérito encaminhado pela 31ª Promotoria está na reta final e tudo indica que houve desvio de recurso público
Cinco anos depois de golpe da ONG Morhar, que deixou para trás a construção de 300 casas para famílias vulneráveis em Campo Grande, só restam destroços das únicas 42 casas erguidas no Bairro Vespasiano Martins. Tudo foi demolido, condenado tanto por defeitos na construção quanto por ocupar terreno pantanoso, que tornou inviável a sustentação das casas.
As famílias foram removidas de lá e hoje, moram em moradias populares no Parque dos Sabiás, perto do Parque Lageado.
Entre os que viveram “dias de terror” no Vespasiano Martins, está o pedreiro Jone da Silva, de 59 anos. Segundo ele, foram cinco anos sem “poder colocar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo”. Isso porque “lá, qualquer vento que batia a gente ficava desesperado. Minha casa de lá ficou com rachadura e estava afundando no solo, porque tinha muita água na terra”, lembra.
Ainda em 2016, ventania e temporal causou o destelhamento de casas, fato que Jone lembra bem. “Um vento de 60km já tirava telhado, cobertura. A gente subia na casa, via se tinha parafuso solto e tentava apertar. Depois o pessoal da manutenção ia lá, mas não tinha o que fazer, porque arrumavam e, na próxima vez, acontecia a mesma coisa”.
Depois de 5 anos, a antiga ONG (Organização Não Governamental) Morhar está prestes a responder a mais um processo, desta vez, pelo desvio de R$ 2,7 milhões recebidos da Prefeitura de Campo Grande, em 2016.
Inquérito encaminhado pela 31ª Promotoria de Justiça está na reta final e tudo indica que houve desvio de dinheiro público, por parte do ex-presidente da entidade, Rodrigo da Silva Lopes. Em 2016, convênio entre a entidade e a prefeitura previa a construção de moradias para famílias que viviam na antiga favela Cidade de Deus, no Bairro Dom Antônio Barbosa.
Cada uma das casas custaria R$ 12 mil e seriam construídas em regime de mutirão. No entanto, a organização ergueu apenas 42 de 400, no Bairro Vespasiano Martins – um dos quatro bairros que receberam os antigos moradores da favela, junto com o Jardim Canguru, Pedro Teruel (ao lado do Dom Antônio Barbosa) e Loteamento Bom Retiro (atrás da Vila Nasser).
Para o promotor Humberto Lapa Ferri, responsável pela investigação, “a conta é simples, se cada casa deveria custar R$ 12 mil reais e 42 foram entregues, utilizou-se R$ 504 mil reais, contudo, a ONG Morhar recebeu mais de R$ 2,7 milhões, sem que fosse possível identificar onde referidos valores foram gastos”, diz em trecho de petição que originou a Operação Moradias, em 9 de abril deste ano.
Quebra de sigilo bancário de Rodrigo, identificou, à época dos fatos, transferências para sua esposa, Alana Valéria da Silva e para o engenheiro e ex-servidor municipal, Guilherme de Souza Vit. “(…) há que se pontuar a inegável configuração de atos de improbidade administrativa que importem em enriquecimento ilícito, lesão ao erário e violação aos princípios administrativos”, sustenta a petição.
Segundo o promotor, em conversa com o Campo Grande News, o inquérito deverá resultar em ação pública por improbidade administrativa com pedido de restituição ao erário, e pode ainda, identificar mais servidores municipais envolvidos nos desvios ocorridos em 2016.
Vale lembrar que, ao todo, seriam investidos R$ 3,6 milhões para construção de 300 casas, mas somente R$ 2,7 milhões foram repassados à Ong. Rodrigo chegou a prestar depoimento ao Ministério Público, mas “desapareceu”, mesmo deixando advogado constituído para responder ao MP e à Justiça.