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Capital

Fio mal emendado e invocação de “figurões” são estratégias para inocentar réus

Defesas usam foto de família, contam biografias e alegam que provas contra ex-guarda e PF são frágeis

Por Anahi Zurutuza e Dayene Paz | 18/09/2024 17:51
Reação do promotor Douglas Oldegardo quando Yahn Sortida fazia dinâmica com barbante (Foto: Direto das Ruas)
Reação do promotor Douglas Oldegardo quando Yahn Sortida fazia dinâmica com barbante (Foto: Direto das Ruas)

Foto de família, biografias pessoais e profissionais, cena com barbante mal emendado e “brincadeirinha” sobre o quanto mesa em plenário já havia “apanhado” foram as estratégias usadas para atrair a atenção dos jurados pelos advogados Yahn Sortica e Jail Azambuja na tarde desta quarta-feira (18). Os defensores, respectivamente, do ex-guarda civil Rafael Antunes e do policial federal, Everaldo Monteiro de Assis, acusados de dar “suporte” do plano para matar Marcel Hernandes Colombo, o “Playboy da Mansão”, alegam que não há provas contra os clientes e que o Ministério Público tentou ligá-lo ao crime com evidências frágeis.

Sortica começou a argumentação se apresentando aos jurados como advogado de 28 anos, nascido e criado em Campo Grande, casado e pai de "dois". Ele mostrou foto com a mulher e de dois cachorros, além de fazer breve relato sobre quem ele e a família são na história de Mato Grosso do Sul: pessoas comuns. Tudo isso para dizer que, apesar de sobrenomes serem valorizados durante o julgamento – como o dos Name –, ele, como advogado, estava construindo a própria história, assim como o cliente havia “deixado” de ser Antunes, o guarda municipal que foi trabalhar para a família tradicional e acabou condenado por fazer parte de organização criminosa, mas perdeu o posto na segurança pública e hoje, já cumprindo a pena que recebeu no passado, tentava se refazer, como Rafael.

No banco dos réus, Marcelo Rios e Rafael Antunes (Foto: Henrique Kawaminami)
No banco dos réus, Marcelo Rios e Rafael Antunes (Foto: Henrique Kawaminami)

O advogado mostra o holerite do cliente do tempo na Guarda Civil Metropolitana. “Passou num concurso, renunciou a vida dele para trabalhar na segurança para ganhar R$ 1.423”. Seguindo a linha de raciocínio, afirma que Antunes foi trabalhar para os Name como motorista e não como “capanga”, como classificou a acusação, como forma de complementar a renda. “Qualquer pessoa desse plenário pode ter trabalhado com a família Name”, afirmou.

Passada a fase de apresentações, Sortica passou a contestar as provas levadas ao processo de 10,6 mil páginas contra Rafael Antunes. Disse que o ex-guarda foi citado várias vezes, mas nenhuma delas, de maneira a ligá-lo ao homicídio de Colombo.

Para exemplificar, emendou um pedaço de barbante com uma fita adesiva. “Estão fazendo igual essa fita adesiva [a acusação]. Colocando conexões. Mas quando eu forço essas provas para trazer a linha de investigação, elas não se sustentam. E quando não tenho uma linha de investigação que se sustente, eu tenho de absolver o acusado. Absolvam o Rafael! Por este homicídio ele não pode responder”.

Advogado do policial federal, Jail Azambuja durante argumentação (Foto: Paulo Francis)
Advogado do policial federal, Jail Azambuja durante argumentação (Foto: Paulo Francis)

Names e nomes – Já o advogado Jail Azambuja citou as biografias profissionais – dele, como ex-juiz federal e ex-membro do MP – e do cliente, o policial federal Everaldo Monteiro, que atuou na fronteira e mesmo mudando de setor na Capital, mantinha contatos com vários serviços de inteligência da segurança pública.

O advogado também, em vários momentos, invocou “figurões” de Mato Grosso do Sul de maneira a impressionar os jurados, como por exemplo, quando diz que advoga pro bono para o PF. “Falaram que sou advogado caro. Não acho que eu seja, mas não estou cobrando 1 centavo pela defesa dele. Fui procurado para fazer isso pelo Dr. Odilon de Oliveira, também juiz federal aposentado. Eu tenho de defender o Everaldo aqui e não é porque eu o conheço há 30 anos, mas porque essa acusação contra ele aqui é um absurdo”.

Azambuja também citou o delegado Claudineis Galinari, já falecido. Everaldo já havia falado em depoimento sobre a amizade com o policial civil e afirmou que o áudio em que o réu cita o nome da vítima havia sido enviado ao colega, que investigava o envio de drogas para a Europa e estava levantando suspeitos.

O terceiro nome “importante” usado na argumentação foi o do ex-delegado Paulo Magalhães, assassinado em 2013 pelo pistoleiro José Moreira Freires, segundo a acusação, ligado à milícia alvo da Operação Omertà. Embora as investigações sobre o assassinato de Magalhães tenham chegado ao executor, nunca foram apontados os autores da encomenda. Apesar de nem mesmo a força-tarefa ter conseguido capturar o fio da meada, Jail Azambuja listou a morte do ex-delegado e revelou: “meu amigo”.

O defensor também afirmou que, até 2018, a casa da família Name era “bem frequentada” por “desembargadores, políticos, promotor, por chefe de polícia” e que o policial federal que defende tinha sim relação com Jamil Name e o filho, Jamilzinho, “mas não nesses termos que se fala”, não de forma “espúria”, afirmou. “Até 2018, eles não tinham um processo criminal”.

Jail Azambuja diz que a única prova que o MP diz envolver o cliente no homicídio de Colombo é o tal áudio, embora inúmeras outras tenham sido apresentadas nestes três dias, e finaliza a alegação deixando dúvida para os jurados. “Qual é o fato aqui? Fato não deixa possibilidade. Fato acontece ou não acontece. E a decisão que vocês têm de tomar aqui, tem de ser além da dúvida razoável”.

Everaldo Monteiro de Assis ao chegar para interrogatório nesta terça-feira, dia 17 (Foto: Paulo Francis)
Everaldo Monteiro de Assis ao chegar para interrogatório nesta terça-feira, dia 17 (Foto: Paulo Francis)

A morte – Marcel Colombo, empresário de Campo Grande de 31 anos, foi morto em 18 de outubro de 2018. Ele estava em cachaçaria com amigos, sentado em deck próximo à calçada da Avenida Fernando Corrêa da Costa, quando atirador desceu de moto e se aproximou. Seis tiros atingiram a vítima, um deles de raspão e outros cinco pelas costas, que morreu sentada no estabelecimento.

Jamil Name Filho é acusado de decretar a morte de Colombo, enquanto Marcelo Rios, ex-guarda civil metropolitano e “homem de confiança” de Jamilzinho, seria o arquiteto do plano de assassinato com o suporte do policial federal Everaldo Monteiro de Assis, que elaborou dossiê sobre o alvo, e do também ex-guarda Rafael Antunes, todos no banco dos réus desde a segunda-feira (16).

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