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Cidades

Promotor dos “mil júris” chora e apela baixinho para jurados: “condenem”

Douglas Oldegardo se emocionou e arrancou lágrimas de colega ao falar da missão de investigar

Por Anahi Zurutuza e Dayene Paz | 18/09/2024 22:40

“Agindo em qualquer função,

ao povo eu dou proteção

para o meu dever cumprir.

Em minha luta aguerrida,

Eu arrisco a minha vida,

É meu dever servir”.

Trecho do hino da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul foi lido pela promotora Luciana do Amaral Rabelo e repetido pelo colega de bancada, Douglas Oldergado, em argumentações emocionadas. O promotor dos “mil júris” que havia deixado os plenários, mas voltou esta semana para o segundo julgamento popular da Operação Omertà, chorou ao dizer para quem ali estava por dever. Moisés Casarotto também ficou visivelmente comovido.

“Faço para vocês, por vocês, com o sacrifício pessoal da minha saúde, da minha família, para a sociedade”, afirmou logo após a pausa dramática.

Luciana e Douglas, junto com Casarotto e Gerson Eduardo de Araújo têm a missão nesta quarta-feira (18) de conseguir a condenação de Jamil Name Filho, acusado de decretar a morte de Marcel Hernandes Colombo, o “Playboy da Mansão”, do ex-guarda civil Marcelo Rios, por encomendar o assassinato. Ainda conforme a acusação, o policial federal Everaldo Monteiro de Assis teria elaborado dossiê sobre o alvo e Rafael Antunes ficado responsável por esconder a arma do crime.

Ambos os acusadores, em seus discursos, saíram em defesa dos policiais, delegados e colegas envolvidos nas investigações que desencadearam a Operação Omertà, a derrocada da organização criminosa dedicada a execuções e negócios ilegais, segundo a acusação. “Digo isso para vocês entenderem que quando vocês encontram um delegado Tiago Macedo aos prantos dizendo: ‘mudei minha vida, dos meus filhos, da minha mulher’. Isso é muito sério. Mas ele o fez e foi por culpa de Jamil Name Filho. O nome disso é culpa!”, disse Douglas.

O promotor também relembrou do investigador com 15 anos de Polícia Civil, Giancarlos de Araújo e Silva, que “bateu no peito” durante depoimento para o júri dizendo que a promessa atribuída a Jamil Name não se concretizou porque a força-tarefa conseguiu frear milícia que atuava em Campo Grande.

“Se as forças de segurança não tivessem atuado, talvez a profecia de Jamil Name tivesse se cumprido. Talvez não tivéssemos um governador morto, mas um picolezeiro”, bradou, relembrando a conversa de WhatsApp interceptada pela investigação em que Name admite ser chefe de grupo de extermínio, “a matilha é minha”, e revela à interlocutora que havia sido iniciada ali “a maior matança da história do MS” porque morreriam “de picolezeiro a governador”.

Mais uma vez, Douglas repassou o caminho que a força-tarefa percorreu pelos dados telemáticos (contidos em celulares) acessados com a ajuda do Google para reforçar que a acusação trabalhou em cima de uma linha investigativa e não de suposições, como a defesa quer demonstrar. Relembrou aos jurados que o crime organizado é especialista também em não deixar rastros. “Não tem bilhete, carta, whats, escrito com a ordem ‘matem Marcelo Colombo’. E não vai ter! Não vai ter nunca! Nunca vão encontrar a ordem do mandante para o executor”.

Douglas Oldegardo, promotor dos “mil júris” que havia deixado os plenários, mas voltou para o segundo julgamento da Omertà (Foto: Paulo Francis)
Douglas Oldegardo, promotor dos “mil júris” que havia deixado os plenários, mas voltou para o segundo julgamento da Omertà (Foto: Paulo Francis)

Mesmo assim, afirmou, provas foram pescadas nos dados armazenados em nuvem fornecidos com as quebras de sigilo ou análise de material apreendido. “Não sou eu, não é o Gaeco, não é a Garras, é o Google que mandou e o nome disso é dado telemático”.

O promotor também ironizou o choro de Eliane Benitez Batalha dos Santos, a mulher de Marcelo Rios, ouvida na condição de informante – que, por ter laços afetivos com o acusado, não tem o compromisso legal com a verdade. “Quase emprestei um colírio para ela”.

Por fim, ele exibiu novamente o vídeo de câmera de segurança que gravou a execução de Colombo, mostrado pelo promotor Moisés Casarotto, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) na abertura dos debates, na manhã de hoje. “Quero que os senhores olhem agora pela última vez esse vídeo, para nunca mais olhar”.

Douglas Oldegardo afirma que Marcel Colombo poderia ser “qualquer um que saiu cansado do trabalho para tomar um chopp” e lembra que os tiros endereçados ao desafeto de Name, na versão da acusação, também atingiram um amigo dele, que sobreviveu. “Aquele rapaz de preto não deu soco em ninguém, não brigou com Jamil Name, é um qualquer da sociedade”, frisou.

O promotor finalizou dizendo que as defesas dos acusados tentam desconstruir a linha investigatória e diminuir as provas, mas “não vão calar nossa voz”. Ele faz citações poéticas, olha nos olhos dos jurados e apela baixinho: “condenem”.

A morte – Marcel Colombo, empresário de Campo Grande de 31 anos, foi morto em 18 de outubro de 2018. Ele estava em cachaçaria com amigos, sentado em deck próximo à calçada da Avenida Fernando Corrêa da Costa, quando atirador desceu de moto e se aproximou. Seis tiros atingiram a vítima, um deles de raspão e outros cinco pelas costas, que morreu sentada no estabelecimento.

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